DIREITO A VOTO E CONSCIÊNCIA POLÍTICA - OPINIÃO

Marquinho Tortorello*
29/06/2000 15:51

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Votar, mais que um dever cívico, é um ato de consciência, pois há países e culturas nos quais não há obrigatoriedade e no entanto a cidadania se manifesta em massa para escolher seus legisladores e administradores. Esse direito e essa obrigação, porém, são constantemente deturpados nas campanhas eleitorais em geral, nas quais especialistas em propaganda e publicidade "vendem" candidatos como se fossem produtos. Mas ainda esses candidatos partem para a conquista de votos prometendo mundos e fundos, de cestas básicas a empregos para todos, de bolsas de estudo a cirurgia estética e vai por aí a fora, aos milhares. É evidente que os resultados para a população são sempre desastrosos.

O fato alarmante é que a maioria, ao invés de rever os próprios conceitos na escolha de candidatos, põe em dúvida a viabilidade do regime democrático, que depende estritamente daqueles critérios. Escolher por paixão, aparência, barulho e fachada é descumprir com obrigações cívicas, pois há imensa diferença entre fazer parte de uma torcida organizada de time de futebol e a participação numa disputa eleitoral. As conseqüências da primeira para o futuro dos municípios, dos Estados e do país são irrelevantes, não modificarão os níveis de miséria ou riqueza, desenvolvimento ou atraso . Já as da segunda, são decisivas. O erro na escolha de legisladores e administradores pode ser fatal para o município, o Estado e o país.

Os partidos têm de ter um programa claro, transparente, adequado à realidade na qual será posto em prática. Os representantes desses partidos têm de ter conhecimento dessa realidade, dos métodos, meios e procedimentos para realizar tal programa e, mais que isso, vontade política, decisão, determinação e convicção para poderem chegar a bons resultados. Os eleitores têm de ter cultura política, consciência das necessidades locais e regionais para avaliarem candidatos e decidirem com margens mínimas de erro.

Devem desconfiar de promessas mirabolantes e individuais, de posturas espalhafatosas e sem conteúdo. Devem julgar com serenidade atitudes aparentemente combativas isoladas de programas de ação política evidente e destinada a resolver problemas, mas na verdade destinadas a criar um carnaval de ofensas, acusações e denúncias gratuitas, sem conteúdo outro que explorar de maneira descarada os justos sentimentos de desagrado das pessoas.

Votar é escolher. É, também, responsabilizar-se pela escolha. Portanto, não pode ser resultado de otimismo gratuito, nem de pessimismo definitivo. Tem de ser, necessariamente, um ato de consciência sustentado por sólida responsabilidade cívica.

*Marquinho Tortorello é advogado, professor e Deputado Estadual (PPS).

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