Segurança pelas próprias mãos

OPINIÃO - Romeu Tuma*
01/02/2005 17:40

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A ausência de políticas consistentes e continuadas de segurança pública e o descaso do Estado no combate à violência fazem com que o cidadão comum busque a segurança pelas próprias mãos. Por mais números que as autoridades divulguem, com o objetivo de demonstrar avanços, a população precisa arregaçar as mangas e utilizar dos mais diferentes artifícios para buscar uma vida com o mínimo de paz.

Nas grandes cidades, além de se esconder atrás de muralhas e dentro de carros blindados, as pessoas saem em busca de soluções no mínimo inusitadas. São avanços tecnológicos utilizados na prevenção contra os bandidos, numa clara demonstração da descrença em relação aos poderes constituídos no combate à criminalidade.

Seria cômico, se não fosse trágico. Imaginem o que é para um pai ter que colocar em seus filhos pequenos coletes à prova de bala por baixo dos uniformes escolares, tamanha é a sensação de insegurança que reina nos centros urbanos. Pasmem: empresários e grandes executivos estão importando de Israel esses coletes, que lá são usados por medo de atentados terroristas.

A busca da segurança pelas próprias mãos infelizmente é possível para poucos. Quem tem um pouco mais de recursos já opta pela implantação, sob a pele, de pequenos chips fabricados nos Estados Unidos. A ferramenta tecnológica, que custa quase R$ 30 mil, serve para localizar - em casos de seqüestros - as pessoas que a estiveram usando. Estima-se que o equipamento esteja sendo utilizado por cerca de 40 empresários brasileiros, 25 deles paulistanos.

Quem quiser gastar menos pode, por cerca de R$ 8 mil, adquirir um chip que usado em relógios, cintos, sapatos ou outros objetos pessoais. De posse de tal ferramenta, fica mais fácil para a polícia localizar determinada pessoa em caso de seqüestro. Fácil, não?

Esses artifícios são elogiáveis e demonstram como os avanços tecnológicos podem estar a serviço das pessoas de bem. Por outro lado, escancaram a deficiência do Estado no combate ao crime. Ou seja, quem tem dinheiro adquire produtos para garantir a defesa pessoal e a de seus familiares. Quem não tem, fica à mercê de toda a bandidagem que anda à solta nos principais centros urbanos.

Mais uma vez evidencia-se a falta de uma política de segurança pública, seja em nível federal, estadual e até municipal. As polícias Federal, Civil, Militar e Guardas Municipais seguem batendo cabeça, devido aos comandos que, em muitos casos, em vez de defenderem os interesses da população demonstram utilizar os cargos para ações pirotécnicas de marketing político.



* Romeu Tuma é delegado, deputado estadual pelo PPS, ex-presidente e atual integrante da Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa.

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