CULTURA E DESENVOLVIMENTO - OPINIÃO

Arnaldo Jardim
07/03/2003 18:24

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Realizamos recentemente, em nosso Centro de Estudos Raduan, um debate com o ex-secretário da Cultura do Estado de São Paulo, Marcos Mendonça, onde discutimos o papel que a cultura desempenha em nosso dia-a-dia e em nossa economia.

Constatou-se que a cidade de São Paulo passa por uma fase de efervescência cultural. Basta observar que há hoje mais de cem peças de teatro em cartaz; exposições grandiosas, como "Os Guerreiros de Xi'an e os Tesouros da Cidade Proibida", na Oca do Parque do Ibirapuera; produções musicais dignas da Brodway etc. Quando se implementa uma peça musical, cerca de 200 pessoas são empregadas no projeto, o que demonstra a força e a pujança do setor.

Essa atividade cultural é responsável pela injeção de milhares de dólares na economia de São Paulo, que já se tornou o maior ponto de atração turística do Brasil, superando a cidade do Rio de Janeiro e com um perfil diferenciado. Trata-se de um turismo voltado aos negócios e eventos. A característica industrial predominante cedeu espaço e a capital paulista passou a ser essencialmente um centro de serviços, o que estimulou o setor cultural e a economia local. Quando uma pessoa chega à cidade para tratar de negócios, encontra várias alternativas de lazer - teatros, shows e jantares, o que ativa a economia, gerando renda e empregos.

Esse potencial poderia ser ainda melhor aproveitado se possuíssemos uma rede de infra-estrutura bem desenvolvida, que possibilitasse uma cidade limpa e segura aos turistas e um volume maior de recursos para investir em ações culturais. Para se ter uma idéia, o orçamento destinado à cultura no Estado é de apenas 0,10% do total, o que faz com que a verba do município para a área ultrapasse a estadual.

A iniciativa privada também tem um papel fundamental neste contexto, pois 60% dos projetos culturais desenvolvidos na cidade são provenientes de recursos angariados junto a empresas, por meio de incentivos fiscais previstos nas leis Rouanet e Mendonça.

Um exemplo que vale a pena ser citado é o da cidade de Bilbao, na Espanha. O país sempre teve como "meninas dos olhos" as cidades de Barcelona e Madri, para onde até pouco tempo nove em cada dez turistas se dirigiam. No entanto, após ser fundado o museu de Bilbao, a cidade cresceu - mesmo com a fama de ser violenta devido aos atentados promovidos pelo grupo separatista basco ETA - e passou a se posicionar como o terceiro ponto turístico do país.

Fora todo o potencial econômico da cultura, que enche nossos olhos, também temos que atentar para outra vertente: a questão social.

Segundo pesquisas realizadas no Estado, constatou-se que não há nada melhor do que a cultura como forma de prevenir a violência, pois ela funciona como uma espécie de "terapia ocupacional" para a população carente. Prova disso é que entre dois bairros pobres com os mesmos indicadores de desenvolvimento econômico, o que não possuir atividade cultural provavelmente terá um maior índice de violência.

A cultura, atrelada ao turismo, com a sua força de gerar empregos e renda e de trazer os excluídos de volta à sociedade, pode ser utilizada como uma ferramenta para inserir o Estado de São Paulo em um novo contexto mundial, pois, sem dúvida, trata-se de um agente transformador da sociedade.

* Arnaldo Jardim é deputado estadual, engenheiro civil e relator geral do Fórum SP Século XXI.

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