Correio deselegante

OPINIÃO
22/06/2005 20:03

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Junho costuma ser um mês animado em Pindorama. Particularmente no Nordeste. É de conhecimento geral o fato que a esmagadora maioria dos deputados e senadores da região não hesita em faltar a sessões importantes do Congresso Nacional só para participarem das festas juninas, onde seus eleitores levantam a poeira e, suponho, trocam correios elegantes à beira de fogueiras e sob o céu iluminado pelo foguetório sem fim.

As festas em homenagem aos três santos " Antônio, o casamenteiro, João, o discípulo mais amado, e Pedro, o fundador da Igreja Católica " sempre serviram para, digamos assim, promover novos namoros, muitos deles surgidos a partir de inocentes correios elegantes. Bons tempos. Hoje, os recados são muito mais diretos, ameaçadores e com alto poder de destruição. Ao menos em Brasília, onde a quadrilha inocente foi substituída pela gafieira de má fama. E a bola da vez, nesta guerra de recados objetivos e nada elegantes, é o presidente da República.

No seu depoimento à Comissão de Ética da Câmara, o deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) disparou petardos de fel para todos os lados e atingiu a testa de Lula. Ao dizer que o presidente nada sabia sobre as prováveis lambanças promovidas por seus principais assessores e companheiros de partido " materializadas na forma de mesadas a deputados venais " e que chegou a chorar quando informado dos fatos, Jefferson afirma com todas as letras que o presidente da República não tem autoridade sobre seus subordinados, é um tolo que não sabe o que vai ao seu redor e que, portanto, é um despreparado para ocupar o cargo que ocupa.

Não há outra leitura possível. A não ser, evidentemente, que se queira especular e levantar a hipótese de que Lula sabia de tudo, mas resolveu se valer de umas poucas lágrimas furtivas a fim de que possa entrar para a história como uma espécie de inocente útil do seu grupo político. Nesse caso, nós estaríamos diante de um ator extraordinário, capaz de enganar milhões e milhões de inocentes por anos a fio. Um ator, enfim, maior que o próprio Roberto Jefferson, apontado aqui e ali, por vários colunistas, como candidato ao Oscar de 2005.

Mas o problema é que o comissário José Dirceu, principal alvo aparente das denúncias de Jefferson, também resolveu soltar uns rojões, além de mandar um recado igualmente nada elegante ao presidente da República. No dia seguinte ao depoimento de Jefferson, Dirceu foi direto ao ponto: afirmou que nunca fez nada que não fosse do conhecimento de Lula. Agora, de volta à Câmara Federal, o ex-ministro da Casa Civil vai ter que explicar-se junto aos membros da CPI dos Correios e da Comissão de Ética.

É improvável que os dois " Jefferson e Dirceu " tenham mentido integralmente. Com que roupa Lula vai sair do arrasta-pé é algo que só o tempo e as investigações dirão.

*Milton Flávio (PSDB) é professor de Medicina da Unesp (Botucatu) e vice-líder do governo na Assembléia Legislativa de São Paulo

miltonflavio@al.sp.gov.br

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