BRINCADEIRA DE BONECA - OPINIÃO

Arnaldo Jardim*
28/03/2001 15:53

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No Brasil, a cada ano, cerca de um milhão de jovens se tornam mães antes de completar 19 anos de idade, sendo que somente São Paulo abriga 140 mil destes casos. Entre os anos de 1993 e 2000, houve um aumento de 31% nos casos de garotas com idade entre 10 e 14 anos que deram a luz. Do total de partos realizados na rede pública de saúde (Sistema SUS), 24% são de jovens de até 19 anos.

Não é preciso ser nenhum especialista para concluir que estamos diante de uma verdadeira fábrica de problemas sociais. Na sua maioria, essas jovens não têm a mínima condição psicológica ou financeira de criar e educar os seus filhos, o que certamente contribui para agravar ainda mais a já precária condição de nossa infância.

Presente em todas a classes sociais, a gravidez na adolescência é mais grave nas camadas mais pobres da população, uma vez que nas faixas de baixa renda a falta de condição financeira dificulta uma ação corretiva da família.

Esse problema grave precisa ser combatido e, para tanto, é preciso uma análise aprofundada das suas causas. Sem a pretensão de fazê-la, gostaria de refletir sobre alguns aspectos que podem nos dar pistas que ajudem a equacionar a questão:

1. o grau de urbanização e a crescente concentração em grandes conglomerados urbanos, tornando mais complexo o relacionamento social, com reflexos diretos na organização familiar;

2. a busca do aumento da renda familiar para fazer frente às necessidades básicas, o que tem contribuído para um menor acompanhamento da educação dos filhos, por pais e mães;

3. a universalização dos meios de comunicação, sobretudo a televisão, que concorre com os pais na educação e têm agido de forma negativa, principalmente no que diz respeito à vulgarização do sexo, valorização do erotismo e à antecipação da sexualidade;

4. a crise de valores da sociedade contemporânea, com a valorização demasiadas das questões estéticas e do consumo;

5. a falta de lazer e alternativas culturais para a juventude;

6. a falência do Estado brasileiro, com a conseqüente crise no sistema educacional e de saúde;

7. o aprofundamento das desigualdades sociais e regionais.

Resolver a questão, portanto, não é uma tarefa das mais fáceis e passa por fatores estruturais inerentes ao nosso atual modelo econômico concentrador e injusto, o que por sua vez, não pode ser justificativa para imobilismos.

É preciso dar ouvidos aos conselhos dos especialistas, que apontam para a necessidade de um programa de prevenção à gravidez na adolescência, que não se limite a informar aos jovens os métodos contraceptivos e as conturbações decorrentes de uma gestação precoce, mas que tenha o foco no emprego da educação sexual, para que o assunto deixe de ser um tabu e as cautelas se tornem dispositivos automáticos. Ou seja, não basta informar, é necessário educar. Quem sabe seja possível, nesse caso, uma articulação do Poder Público com os meios de comunicação para que eles auxiliem a desatar o nó que ajudaram a dar.

Enfim, prevenção, estabelecimento de vínculos entre os jovens namorados, educação sexual, esclarecimento dos riscos que uma gravidez representa para a saúde da adolescente e inserção social de uma menina grávida, são questões que podem ser enfrentadas já, para que não nos tornemos, apesar de nossa baixa taxa de longevidade, um país recordista em bisavós.

*Arnaldo Jardim é deputado estadual pelo PPS.

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