Sem planejamento não há governo democrático

OPINIÃO - Carlinhos Almeida*
24/03/2003 16:13

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Esteve muito distante de ser um "Fórum Regional" o evento promovido pelo governo do estado em São José dos Campos no último dia 14. Infelizmente não foi praticada na ocasião a filosofia contida numa frase dita pelo governador, oferecida como justificativa à organização do evento, de que "existem dois tipos de governo: o de gabinete, que é burocrático, e o moderno, que decide junto com a sociedade e por isso erra menos".

A vinda do governador e sua equipe à região, apesar de mal divulgada - há menos de uma semana do evento o próprio Escritório Regional de Planejamento do governo estadual não tinha sua programação e nem sabia informar com segurança onde seria realizado - despertou expectativa em amplos setores da comunidade. Acreditou-se que seria um momento privilegiado para a região ser ouvida em suas propostas e reivindicações, dando início a um modelo mais democrático de relacionamento do Executivo Estadual com o Vale do Paraíba, diferente do praticado nos últimos oito anos, ainda que pelos mesmos governantes.

Em resumo, o que houve foi um misto de propaganda do governo estadual com um balcão mal organizado, de onde os secretários recebiam os prefeitos, a maioria de pires na mão - grande parte das reivindicações tiveram que ser entregues direto no protocolo. A decepção foi tanta que o próprio prefeito José Bernardo Ortiz, tucano de Taubaté, acabou atacando pela imprensa a ineficácia do evento.

A própria imprensa regional já destacou que o grande saldo da passagem do governador pelo Vale foi a extensa lista de promessas. Esperamos e vamos cobrar o seu cumprimento.

Mesmo assim, ainda há muito a esclarecer em relação ao que foi prometido e o que realmente se pretende fazer. O fato de não ter apresentado um claro plano de governo para a região durante a sua campanha facilitou ao governo a tarefa de anunciar uma série desencontrada de ações cuja nebulosidade das informações serviu muito mais para impressionar o público do que para esclarecer o que exatamente vai ser feito. Como exemplo dessa confusão, gostaria de citar o caso noticiado pela imprensa de que o Estado anunciou recursos de 14,5 milhões - mais do que o que prevê gastar nas obras da Tamoios e no Porto de São Sebastião juntos - no incentivo ao turismo em alguns municípios da região, fato que nos leva a perguntar: é isso mesmo? Onde e no que esses recursos serão aplicados? Quais são os projetos? É dinheiro novo ou, na verdade, essa foi uma outra forma de reproduzir obras já anunciadas, por exemplo, na área dos transportes?

Como deputado da região, procuramos contribuir para que nossas lideranças políticas e comunitárias fizessem chegar seus anseios e propostas ao governador e sua equipe. Para tanto participamos dos debates organizados em Taubaté, em fevereiro deste ano, pelo Deputado Padre Afonso Lobato e organizamos uma reunião em São José dos Campos, com a presença de representantes dos legislativos e executivos, lideranças comunitárias, sindicais e empresariais de 11 municípios da região, fato que gerou uma série de sugestões e reivindicações locais, sub-regionais, gerais da região e até de caráter estadual, que apresentamos ao governo.

A reunião que organizamos em São José dos Campos - e isto já havia acontecido numa das plenárias de Taubaté - realçou um fato, evidenciado na forma de "governo itinerante" iniciada na região pelo Governador no último dia 14, para a qual promete dar continuidade: falta planejamento nas ações de governo no Vale do Paraíba. Por isso mesmo, a principal reivindicação aprovada pela plenária que realizamos em São José é que o governo adote instrumentos democráticos e permanentes de planejamento das intervenções do Estado na região, com destaque para a retomada das discussões relativas à instalação da Região Metropolitana do Vale do Paraíba, que vínhamos discutindo até o final do ano passado.

*Carlinhos Almeida é deputado estadual do Partido dos Trabalhadores

alesp