Vera Orsini desenvolve formas equilibrando composição e percepção

Emanuel von Lauenstein Massarani
20/03/2003 16:09

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A exemplo de diversos artistas que buscam a raridade na criação, Vera Orsini se distingue por estudar, indagar e trabalhar sua matéria. A combinação geométrica das diversas cores nos conduzem a modulações que não encontram resposta, nem em pesquisas formais pré-existentes, nem na realidade objetiva. Elas provêem de sonoridades íntimas inexploradas tanto no momento da inspiração quanto no momento da versão final.

Na obra da série "Champs Elysées", doada ao Acervo Artístico do Palácio 9 de Julho, um leve sopro invade os timbres cromáticos utilizados, tênue e refinadamente, nos meios tons intimistas e um harmônico desequilíbrio aparece entre cores diversificadas às vezes quentes, outras pastéis.

Dentro de uma nebulosa em movimento, aparecem cores do arco-íris, amarelo, azul, vermelho, marrom, laranja e mais o preto. O vermelho obtém dessa harmônica mescla a leveza do timbre e a formalidade vaga, indeterminada. Dentro de uma sua exigência de unir, numa circunstância global, a forma à cor, a artista obtém em sua pintura a poesia da transparência.

Vale salientar que somente em aparência Vera Orsini evoluiu a própria linha operativa. A geometria constitui sempre seu parâmetro de base. Seus trabalhos atuais, pela ausência de "forma" visível tão somente sugerida pela imparcialidade dos traços geométricos, podem apresentar uma certa dificuldade na leitura perceptiva.

Entretanto, é de fato mais difícil revestir de formalidade uma massa cromática, que tende a se desfazer, seja pelo meio tom do timbre, seja pela indeterminação desejada do seu parâmetro externo. A pintora resolve o problema com um "pianíssimo" quase musical de seus timbres pontilhados.

O resultado é um agradável jogo de formas abstrato-geométricas informais que recebem, entre as cores pastosas, fortes acentuações de timbre. Vera Orsini tende a privilegiar a percepção com dois modos diferentes: de um lado, uma meditada busca dos valores essenciais da percepção visiva, do outro, o desenvolver de formas com o conseqüente equilíbrio da composição e da percepção.

A Artista

Vera Lucia Orsini nasceu em São Paulo, Capital. Realizou diversos cursos técnicos de cerâmica com Cecília Stelini, Heloisa Alvim, Akiko Fujita, Célia Cymbalista, Vilma Villaverde e Jorge Chiti. Em vidro modelado cursou Fusing e Casting com Vilma Villaverde e Carlos Herzberg; em vidro soprado com Yasumasa Sano, no Japão. No campo das artes visuais e da arte conceitual seguiu cursos com Carlos Fajardo e Cecília Stelini.

Atua na área experimental utilizando o objeto com conceito como meio de expressão. Catalogada no Panorama Atual de Cerâmica e Vidro do Mercosul. Sua produção inclui pintura, fotografia com interferência digital e instalações que interrogam as alterações da vida, ocasionadas pela vivência do cotidiano.

Participou de inúmeras exposições coletivas e individuais, destacando-se entre elas: I e II Salão do Vidro e Terracota - Biblioteca Municipal John Kennedy - São Paulo (1996 e 1997); Campinas Décor (1997, 1998, 1999 e 2000); Galeria Aquarela, Campinas (1997 e 1998); Silvia Matos Atelier de Criatividade, Campinas; Galeria Lavoro d´Arte, Rio de Janeiro (1999); "Gradeação" Silvia Matos Atelier de Criatividade, Campinas; "Gradeação" Associação dos Artistas Plásticos, Araçatuba; Bienal de São João da Boa Vista (2000); Capela de São Sebastião, Campinas (2001); Salão de Artes Visuais de Vinhedo, São Paulo (2002); Artexpo 2003 Nova Iorque - Jacob K. Javits Convention Center (2003).

Possui obras em importantes acervos particulares e oficiais, entre eles o da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.

alesp