Opinião - As mulheres e os espaços de representação do poder


07/03/2012 17:05

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Para comemorar o Dia Internacional da Mulher, realizamos, no dia 3/3, plenária com lideranças femininas de diferentes municípios da região sudoeste. O objetivo do encontro foi prestar contas de nosso mandato às mulheres e também fazer uma reflexão sobre a participação feminina na política, ou melhor, na disputa de cargos eletivos.

Se considerarmos que o exercício político está presente em todas as relações humanas, nas esferas públicas e privadas, podemos afirmar que as mulheres fazem política tanto quanto os homens. Há quem diga que, por características culturais, reafirmadas pelos processos de educação formal e não formal, as mulheres atuam nos espaços da vida privada, e os homens nos de abrangência pública.

Não concordo totalmente com essa avaliação, sobretudo no que se refere às mulheres das classes populares. A história recente do Brasil mostra que a conquista de direitos no período pós-ditadura militar se fez com a presença das mulheres no espaço público. Impossível pensar os movimentos sociais sem a presença feminina.

A pergunta feita aos presentes à nossa plenária foi: por que, sendo as mulheres maioria nos movimentos sociais comunitários, elas são a minoria nos espaços de representação política, notadamente, nos cargos eletivos? Muitas reflexões foram apresentadas para explicar esta aparente contradição, mas três chamaram atenção.

A primeira foi a falta de recursos financeiros para campanhas. À primeira vista essa parece ser uma dificuldade comum às candidaturas populares de homens e mulheres. Mas, quando analisamos a dinâmica do funcionamento das famílias, constatamos que as mulheres sofrem mais com a ausência de estrutura econômica por uma razão simples: o trabalho doméstico que ela realiza gratuitamente precisa ser reposto, com a remuneração de outras pessoas, geralmente outras mulheres.

Quando um homem é candidato, ele não se preocupa em contratar pessoas para as tarefas domésticas, incluindo o cuidado com as crianças ou pessoas enfermas, que em geral ficam sob a responsabilidade feminina. O mesmo não acontece com as mulheres.

Outro aspecto apontado foi a dificuldade de reconhecimento social sobre a capacidade das mulheres de intervir em áreas distintas. Em geral, a atuação pública das mulheres é reconhecida em campos específicos. Outra enorme contradição, pois a vida real demonstra que as mulheres são obrigadas, independentemente de sua formação profissional ou grau de instrução, a entender de economia, educação e saúde no trato familiar.

Por fim, houve um debate sobre a dificuldade ou habilidade da fala feminina. Para alguns, as mulheres ainda precisam aprender a falar publicamente. Também discordo. Nas lutas sociais, as mulheres se comunicam perfeitamente bem.

Creio que o problema não é as mulheres falarem, mas sim serem ouvidas. De fato, as instituições em geral ainda valorizam mais a fala de homens brancos da elite " herança da nossa história, marcada pela escravidão, machismo e concentração de renda.

Ao final da nossa plenária, não encontramos soluções mágicas para fazer com que as mulheres ocupem efetivamente seu lugar na representação do poder político. A não ser aquela que as mulheres conhecem tão bem e exercitam cotidiana e historicamente: sua luta, construída com mobilização e propostas.

Parabéns a todas as mulheres que, diariamente, na família, no trabalho, nas comunidades e no exercício do poder contribuem para a construção de uma sociedade justa, solidária e livre de preconceitos. Feliz e combativo 8 de Março!



Geraldo Cruz é deputado estadual pelo PT

alesp