Opinião - Dia da Resistência Portuária


01/03/2011 17:23

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Duas décadas se passaram, mas continua sendo motivo de orgulho e comemoração o 28 de fevereiro de 1991, data tensa e marcante, que passou para a história santista como Dia da Resistência Portuária.

Inesquecível: a cidade de Santos parou para defender o emprego de 5.372 trabalhadores portuários, sumariamente demitidos, de uma canetada só, pelo então presidente Collor. A população santista se negou a aceitar e resistiu. Milhares de pessoas foram às ruas, em uma manifestação pacífica que repercutiu em todo o Brasil. Foi o auge de 22 dias de uma boa luta, que levou Santos e sua gente a uma vitória histórica: o governo recuou e anunciou a reversão das demissões.

O corte atingira mais da metade do contingente de funcionários da Codesp, prenunciando um caos social, com forte impacto na economia regional. A demissão foi um ato de represália do presidente, em repúdio a uma greve do movimento portuário. Os trabalhadores cruzaram os braços, reivindicando reposição de perdas salariais, que já chegavam a 158%. O governo Collor endureceu, mas Santos não se acovardou e cerrou trincheiras contra a arbitrariedade.

Os trabalhadores demitidos, suas famílias, sindicalistas, lideranças políticas, empresários e cidadãos anônimos formaram uma vigorosa corrente de força e solidariedade. Os dias que antecederam o 28 de fevereiro foram de grande tensão. Uma indignação geral tomou conta da cidade.

O Palácio José Bonifácio, sede do governo municipal e sob a gestão petista de Telma de Souza, tornou-se quartel-general da resistência santista. Mensagens foram disparadas ao governo federal, pedindo a suspensão das demissões. No dia 26 de fevereiro, uma grande caravana seguiu para Brasília. Resultado nulo: o Palácio do Planalto mantinha-se intransigente.

A prefeita decidiu decretar estado de calamidade pública. No dia 28, o movimento atingiu seu ápice. O Fórum Sindical da Baixada Santista parou a cidade. Ônibus não circularam. O comércio não abriu suas portas. Milhares de homens, mulheres e crianças formavam um verdadeiro mar de gente nas ruas do centro de Santos. Na solidariedade aos 5.372 chefes de família estava embutida a defesa do patrimônio humano, que envolvia um contingente aproximado de 30 mil trabalhadores portuários.

Com a força dessa grande e pacífica união, a cidade foi ouvida: um telefonema de Brasília, às 13h30, comunicou o cancelamento das demissões. O governo Collor recuara. A multidão então se uniu em lágrimas, sorrisos e abraços. Um momento de superação e emoção, cujas lembranças, ainda hoje, 20 anos depois, provocam arrepios e deixam marejados os olhos de quem viveu aquele momento histórico.

Para eternizar a data, foi criado o Dia da Resistência Portuária. Eu, que era secretária de Educação de Santos, participei do movimento para denominar "28 de Fevereiro" a escola municipal do bairro do Saboó, um dos redutos de moradia dos trabalhadores portuários. A opção final pelo nome foi feita de forma democrática pela comunidade local.

Está de parabéns o Núcleo do Porto do PT de Santos, que todos os anos comemora o Dia da Resistência Portuária. A chama se mantém acesa, tornando vivas as lições daquela vitória: resistência, solidariedade, coragem e união. Que possamos viver essas verdades, hoje e sempre.



* Maria Lúcia Prandi é educadora, deputada estadual pelo PT e cientista política.

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