Opinião - Rumo a uma escola mais utópica


09/12/2008 16:38

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Utopias não existem. São terras imaginárias para as quais não há " e nem teria como haver " mapas ou trajetos. Cumpre portanto inventar rotas, não para se chegar lá, mas para se construir uma realidade superior. Pois utopia, segundo o próprio autor da palavra, o filósofo Thomas Morus, é um "não-lugar", um espaço sonhado, capaz de nublar os pesadelos que vivemos acordados.

Por isso mesmo, um dos mais belos discursos do século XX foi, para mim, o de Martin Luther King, pronunciado em 1963 na capital dos EUA, no qual ele repetiu, por oito vezes, a mágica oração "Eu tenho um sonho", para expor às multidões seus ideais de justiça, de construção de um mundo menos opressivo.

Utopias não existem, mas precisamos delas para fazer do sonho a realidade, regando de ideais nosso cotidiano, fertilizando-o. Carrego comigo muitas dessas "terras imaginárias". Uma delas, a mais recente, é a de sonhar que todas as crianças e adolescentes portadoras de males crônicos como diabetes, epilepsia, hemofilia, entre outros problemas, sejam aceitas, sem exceção, em todas as escolas de nosso Estado.

Por isso mesmo, sensibilizado e solidário ao drama dessas crianças e de suas famílias, desenvolvi o Projeto de Lei 717/2008, que já tramita na Assembléia Legislativa, tornando obrigatória a presença de um profissional de saúde em todos os estabelecimentos de ensino, justamente para lidar de modo satisfatório com situações que exigem a perícia de um especialista.

Nossas autoridades não têm uma noção precisa de quantas crianças e adolescentes sofrem de problemas crônicos, que exigem cuidados de saúde especiais. Segundo dados que constam da 10ª Conferência Nacional de Saúde, há 12 anos, 7,8 em cada mil crianças e adolescentes de 7 a 15 anos no Brasil tinham diabetes juvenil, o mais visível desses males.

Com base nessa projeção, podemos estimar em mais de 50 mil o número de estudantes atualmente com esse problema no Estado. A situação, porém, pode ser mais grave, pois especialistas têm sinalizado que a incidência vem se agravando nos últimos anos. O mais dramático nesses casos, não é "só" o problema de saúde, que já é por si um fardo inevitável, o qual carregam com sofrimento aquelas crianças e suas famílias.

O problema é que uma parcela pequena " e esse "pequena" demonstra uma humanidade mais generosa que egoísta " de escolas em nosso Estado tem rejeitado crianças nessa situação. Inicio aqui com esse projeto de lei, mais uma vez, uma trilha rumo à utopia. Passo a passo, busco forças e solidariedade para construir uma teia de apoios, da sociedade civil, de meus colegas parlamentares e do Poder Executivo, para fazer desse sonho uma realidade.



* Jonas Donizette é deputado estadual e líder da bancada do PSB na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo

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