Morrer na praia

Opinião
07/07/2005 21:52

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É deprimente o desenrolar desta ópera dos malandros que invade os lares brasileiros. Lares do Oiapoque ao Chui, onde até as crianças assistem à exibição desta orgia da malversação do dinheiro público, da negociata, da confusão " voluntária e criminosa "entre o que é público e o que é privado. Uma orgia transmitida ao vivo e em cores de manhã, de tarde, e à noite, no horário nobre, mostrando para um Brasil boquiaberto o que alguns políticos fazem com o voto que depositamos neles.

Este mar de lama da administração federal que se avoluma rapidamente como um tsunami faz com que a previsão nada otimista do futuro seja um arrebentar ainda mais violento na praia, levando " de roldão " a fatia mais podre do governo Lula. Se sobreviver a esta enxurrada, o que restará será um Lula sozinho, abatido, desconcertado. O rei está nu, e o espetáculo é de deixar qualquer um vermelho.

O que mais surpreende é que toda esta sujeira vem a público como subproduto de desentendimentos de irmãos fratricidas, que " por sede de poder de um lado, e de holofotes, de outro - expõem agora, às claras, seus mais escusos negócios. E as chagas dos vícios políticos que adoecem este país e que há muito existem na política brasileira vão sendo evisceradas através de um Roberto Jefferson. Um Roberto Jefferson que, flagrado, não teme enfiar as mãos na ferida, mesmo que seja para extirpar o próprio câncer. Afinal, seu caso é terminal. Ele já agoniza insepulto em praça pública. Morre, entretanto, atirando.

Com a ligeireza das metralhadoras azeitadas, Jefferson relembra fatos que nos mostram o interesse contrariado, o uso da espionagem suja, as maracutaias engendradas, os favorecimentos espúrios. Diz como é fácil para alguns ter grana, milhões, correndo daqui para lá, no bolso dos mesmos, ficando sempre, e cada vez mais, longe do bolso do contribuinte.

Como detetive de filme B, revela crimes que vão da compra de legendas à malversação do dinheiro público. Agride a consciência da nação, que não pode recusar, numa análise mais rasteira, a fazer, ela própria, um balanço de suas culpas. Como é triste descobrir como é comum para nós, tupiniquins, escolhermos homens errados para ocupar nossos cargos mais importantes.

Esta vergonha perpetrada contra a nação me entristece porque " independente de partido " a maioria do nosso povo acreditou que, a partir da eleição de Lula, uma estrela fosse se acender, iluminando esta nação com mais emprego, comida, saúde. O marketing de Lula-lá falava disso. Foram muitas as promessas, as expectativas, mas, infelizmente, quando a realidade chegou, vieram ações à conta-gota, mal formuladas e pior, administradas. Agora, dois anos e meio depois de um governo "salvacionista", a corrupção escorre dos esgotos da administração federal, mostrando e confirmando a tese que diz que certas pessoas, no poder, perdem os parâmetros do que é possível e recomendável.

Que decepção para todos nós, brasileiros, ver o partido que até ontem se dizia guardião da ética e dignidade mendigar, hoje, apoio a um PMDB de Quércia & Cia., que se dá ao luxo de se fazer de difícil, de moça casta que escolhe com quem vai manter as primeiras núpcias. O PMDB não quer se atrelar ao PT, porque sabe, como todo Brasil, que diante de todas estas denúncias, o outrora sapo barbudo, como diz aquele filme, está indefeso, como um patinho na lagoa. Quem lhe estender os braços poderá estar dando o abraço dos afogados.

Tudo leva a crer que se cumprirá a sina e Lula, como um molusco, morrerá na praia.

*Milton Flávio (PSDB-SP) é deputado estadual, professor de Urologia da Faculdade de Medicina da Unesp (Botucatu) e vice-líder do Governo na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.

miltonflavio@al.sp.gov.br

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