Escola? Jamais!

OPINIÃO - Milton Flávio
11/02/2005 19:48

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O presidente da República é reconhecidamente homem de origem humilde, intuitivo. Até aí, tudo bem, nada demais. Do ponto de vista ético e moral, dinheiro e livros não fazem beltrano ser melhor que sicrano. E vice-versa. Nem impedem tampouco que se queira dar aos pobres aquilo que, na infância, foi negado a muitos de nós.

O problema é que Lula, ao mesmo tempo em que se julga um iluminado, um ser capaz de mudar a geografia econômica e social do planeta, erradicar a fome e a miséria do mundo, extirpar as injustiças da face da terra e garantir estudo a todos os que se disponham a ler e escrever e tudo o mais o que nossos ouvidos "calejados" - para usar uma expressão que lhe parece cara - suportem ouvir, não perde a oportunidade de fazer a apologia da ignorância. Eis o ponto: o presidente não perde a oportunidade de fazer a apologia da ignorância.

Foi o que se acabou de assistir, por exemplo, em sua desastrada aparição no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. Lá pelas tantas, depois de usar e abusar de números inverídicos e de trocar o nome do presidente de "país irmão", saiu-se com essa: "Quando terminar o meu mandato, eu não vou para a França nem para os EUA fazer pós-graduação. Vou voltar para São Bernardo, para conviver com meus companheiros metalúrgicos".

Sua intenção era claríssima: dar uma estocada em FHC, que cometeu o pecado de estudar. A seu ver, eis um erro imperdoável. Os que não nasceram muito pobres devem, isto sim, virar banqueiros e financiar as reformas da residência oficial da Presidência da República. Aí, sim: a indulgência petista estaria garantida.

O problema é que, embora revele coerência, a fala de Luiz Inácio não faz nenhum sentido. Em primeiro lugar, porque, mesmo que quisesse, o presidente não poderia fazer nenhum curso de pós-graduação, aqui ou alhures, porque sequer é graduado. Poucos pobres brasileiros tiveram ou têm a mesma chance de estudar. Afinal, ao longo dos últimos trinta anos, Lula nada mais fez que discursar, promover greves, viajar para conhecer o país e gozar até não mais poder do fato de ter criado um partido político.

Se dinheiro e tempo para estudar não lhe faltaram, a falta de disciplina e de vocação para a leitura lhe falou mais alto. Problema dele. E deixemos de besteira, aqui não há preconceito algum. Trata-se de constatação ordinária, de amplo conhecimento público.

Quanto ao fato de voltar para São Bernardo para conviver com os "companheiros" metalúrgicos, é bom que Sua Excelência ponha a barbicha de molho. Por lá, já não há tantos metalúrgicos como havia no tempo em que fazia bravatas. E o que é pior: os que lá permanecem empregados ganham, em termos reais, bem menos do que ganhavam no passado. Logo, é de se supor que não estejam tão receptivos assim.

Mas não tomemos, por questão de inteligência, ao pé da letra ao que ao pé da letra não pode ser tomado. O que o presidente quis dizer mesmo é que ele vai voltar aos braços dos velhos e bons amigos sindicalistas, que hoje, graças à sua caneta, aparelham como jamais se viu o Estado brasileiro.

Milton Flávio é médico e deputado estadual pelo PSDB-SP

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