A ARGENTINA NÃO É A GENI - OPINIÃO

Arnaldo Jardim*
16/08/2001 15:43

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Os jornais, as rádios, revistas e Tvs têm dado significativa importância à séria crise enfrentada por um país vizinho e importante parceiro do Mercosul: a Argentina. Acho que só em momentos de enfrentamento futebolístico em Copas do Mundo se falou tanto dos nossos irmãos do sul.

O que poderia ser uma simples constatação, torna-se um fato preocupante na medida em que a crise argentina está sendo oferecida como justificativa às turbulências da economia nacional. Fala-se tanto disso que tem gente amaldiçoando a existência dos nossos vizinhos e querendo vê-los explodir de uma vez, deixando-nos livre para seguirmos em paz com nossa "política econômica sólida". Virou moda falar da Argentina e todo mundo está, como diz a canção, querendo jogar "m...." na Geni.

Além de não dar as costas para a Argentina e de buscar agir com solidariedade, criando um clima para a construção efetiva do Mercosul, é preciso ir "devagar com o andor", afinal não há nada mais falso do que associar a crise brasileira aos desatinos da economia argentina.

A turbulência econômica no Brasil é decorrente da fragilidade dos fundamentos do nosso modelo econômico e é evidente que numa economia fragilizada, onde não se gera recurso próprio para pagar as contas, qualquer resfriado do vizinho pode contagiar e virar pneumonia.

Particularmente, e não tenho orgulho disso, tenho alertado em diversos artigos que a estabilidade econômica promovida pelo Plano Real era desejável mas tinha "os pés de barro". Isso porque se alicerçava na captação de recurso externo - por meio da venda de estatais ou pela atração do capital especulativo internacional. Para se fazer um paralelo com nossa vida cotidiana é como se vivêssemos com dinheiro vindo da venda do nosso patrimônio e de dinheiro alheio (pagando juros altos). Imaginem quanto tempo isso pode durar.

E agora José? E agora FHC? Os recursos da privatização das estatais estão rareando, nossas transações correntes (diferença entre as divisas remetidas ao exterior e as recebidas) são deficitárias e nem podemos aumentar nossas exportações porque, entre outras coisas, temos uma crise de energia que nos impede de crescer.

Quer dinheiro novo? Quem é que vai emprestar? Só com juros escorchantes para compensar o risco. E quem já emprestou trata de se assegurar e o resultado não poderia ser outro: instabilidade e desvalorização constante da nossa moeda em relação ao dólar, não por razões especulativas e temporárias (aí inclui-se o fator Argentina), mas por razões estruturais ligadas a uma lição de casa mal feita.

O ministro Malan chamou de derrotistas os que apontam os graves defeitos da nossa política econômica e afirma que já saímos de situações piores. Saídas? Para onde?

Infelizmente não as vejo dentro deste modelo perverso de uma globalização que nos sufoca e impede que possamos gerar recursos próprios para fazer frente aos compromissos firmados. É preciso deixar de empurrar os problemas com a barriga e tratar de alongar a dívida por um período significativo, fortalecer a produção interna e abrir novos mercados para os nossos produtos. Do contrário, ficaremos eternamente correndo atrás do rabo.

*Arnaldo Jardim é deputado estadual, engenheiro civil e presidente estadual do PPS

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