Coca, cocaína e a irresponsabilidade

Opinião
27/04/2006 19:49

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O presidente da Bolívia, Evo Morales, despreparado e inculto, voltou a justificar sua tese sobre a legalidade da produção de coca em seu país, alegando que essa planta está ligada à cultura dos povos indígenas do Altiplano. No programa "Roda Viva" da TV Cultura, gravado em La Paz em 21 de abril e veiculado no Brasil no dia 24, Morales insistiu que plantar coca é algo natural, mesmo sabendo que criminosos usam folhas de coca para fabricar cocaína.

A América Latina, depois de ter-se livrado de ditaduras militares ou populistas das décadas de 1930 a 1980, parece estar condenada a uma fase medíocre de líderes populares despreparados eleitos pelo povo. No Brasil, cada um tem opinião formada sobre o grupo petista que assumiu o poder em 2003 e que tem sido alvo de graves acusações, enquanto luta pela reeleição. A questão é que, além da situação desconfortável do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil se vê cercado de países que elegeram presidentes levianos, ameaçando deixar a América do Sul em situação de atraso, enquanto nações européias e asiáticas vão evoluindo de modo impressionante, como mostram os números.

Não bastasse o fato de a Venezuela ter um presidente desequilibrado e demagogo como Hugo Chávez, que se inspira no eterno ditador cubano Fidel Castro para mandar e desmandar, a Bolívia elegeu o inculto Evo Morales e o Peru corre o risco de eleger Ollanta Humala no segundo turno, numa disputa contra outra opção frágil, Alan García, que foi um mau presidente.

Convém lembrar que, além disso, a Colômbia se vê às voltas com milícias de esquerda unidas ao narcotráfico e o Equador vai trocando de presidente a cada um ou dois anos, sem encontrar o rumo. Morales chegou ao poder na Bolívia defendendo a nacionalização do gás e do petróleo e o direito dos índios de plantar coca. Isto ele confirmou na entrevista concedida à TV Cultura, em que fez ameaças à Petrobrás e a outras empresas brasileiras que se instalaram em seu país. O ponto mais grave dessa postura irresponsável de Morales, no entanto, está no modo com que ele defende o plantio de coca.

É válido ressaltar que, de fato, a coca faz parte da cultura boliviana e peruana, especialmente entre os índios, que mascam suas folhas até para enfrentar as altitudes elevadas de cidades como La Paz, Oruro, Cochabamba, Puno e Cuzco. O problema é que plantações de coca acabam caindo nas mãos de máfias internacionais, que tratam de ganhar dinheiro transformando as inofensivas folhas de coca em algo terrível: a cocaína. Para se obter cocaína, basta levar adiante um processo químico, pelo qual é misturada acetona, dando origem a um dos mais devastadores tipos de droga do mundo.

E o presidente boliviano Evo Morales, apoiado por tantos outros chefes de Estado de esquerda da América do Sul, não vê nada de ilegal ao defender o plantio de coca. A esperança está na possibilidade de o povo acordar nesses países, um por um, e dar, nas urnas, uma resposta aos demagogos incultos.

*Afanasio Jazadji é radialista, advogado e deputado estadual pelo PFL

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