"Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao PoderPúblico e à coletividade o dever de defendê-lo e de preservá-lo para as presentes e futuras gerações". Constituição Federal, artigo 225.O desenvolvimento é inevitável, bem-vindo e como tal será sempre perseguido pelos governos. Deve servir, sobretudo, à causa humana. Mas, conquistá-lode forma sustentável, preservando os bens da natureza é que representa o grande desafio do momento. Um desafio que se impõe a todos os brasileirose, principalmente ao Poder Público que, através do Ministério do Meio Ambiente, deve estabelecer diretrizes e viabilizar as condições para ocumprimento do mandamento constitucional de 1988.Apesar da completa e, considerada até moderna, legislação ambiental, os problemas se avolumam constatando-se que proibições, multas e outrosmecanismos têm se mostrado insuficientes na proteção ambiental. A tarefa a que se dispõe esse novo governo é promover parcerias, despertar o interessedos cidadãos e incorporar a variável ambiental na estratégia de políticas públicas para o desenvolvimento do país. É neste cenário que ganhaimportância a primeira Conferência Nacional do Meio Ambiente, a realizar-se nos dias 28,29 e 30 de novembro próximo, e suas pré-conferências estaduaisneste mês de outubro.Depois de ter trocado o sonho de ser freira pela militância política, respeitada pela opinião pública e na linha de frente do governo Lula, aserena Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, pelo seu passado, tem credenciais para garantir que esta primeira Conferência será um grandepasso em direção ao país que queremos: desenvolvido, com melhor qualidade de vida, porém com respeito ao meio ambiente em cada um dos 5.561municípios.Em documento prévio de orientação às pré-conferências, o Ministério do Meio Ambiente detectou que o caminho a ser trilhado em direção àsustentabilidade depende do fortalecimento da capacidade coordenadora - executora do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama). Instituído háduas décadas, o Sisnama - um conjunto articulado de órgãos, entidades, regras e práticas responsáveis pela proteção e melhoria da qualidadeambiental, não conseguiu ainda se estruturar e consolidar seu objetivo de viabilizar a gestão ambiental. A tarefa dos grupos de discussão em todo opaís será identificar como o Sisnama poderá dar respostas concretas à problemática ambiental.Entre os problemas do Sistema, por exemplo, está o fato de não ter conseguido avançar na descentralização por meio da criação de instânciasmunicipais de meio ambiente. Neste período, apenas 10% dos municípios brasileiros foram contemplados com a municipalização. Reputo comoprimordial a descentralização da gestão ambiental, sendo necessárias políticas capazes de viabilizar a criação de órgãos municipais de meioambiente, envolvendo equipes interdisciplinares. A articulação com outras políticas do setor público, a integração com os Comitês de BaciasHidrográficas, consórcios, associações intermunicipais e entidades da sociedade civil, além de buscar meios para financiar as políticas locais eregionais, devem estar na ordem do dia.Com o tema " Vamos Cuidar do Brasil", a primeira Conferência representa também uma oportunidade de ouro para incentivar o envolvimento dos cidadãoscom a questão da preservação ambiental. Ano passado uma pesquisa do Ministério do Meio Ambiente descobriu que para a maioria dos brasileiros meioambiente se resumia a fauna e flora. Poluição, lixo, saneamento básico, fontes de energia, e até mesmo os alimentos transgênicos, etc.lamentavelmente, são questões dissociadas do meio ambiente. Por outro lado, 59% consideraram a natureza sagrada, o que prova que apesar dodesconhecimento existe um comprometimento com a preservação. Os brasileiros também elegeram as prefeituras como órgãos responsáveis pela tarefa de educar, discutir e propor soluç ões para o desenvolvimento sustentável, daí porque insistimos na necessidade de descentralizar a gestão ambiental.Além das pré Conferências nos estados - em São Paulo será em Botucatu nos dias 24,25 e 26 de outubro, algo inédito ocorre nas escolas de EnsinoFundamental. Incentivadas a promover suas conferências para discutir e preparar documentos, vão também eleger um delegado para representá-las naversão Infanto - Juvenil da Conferência Nacional, que levará 400 deles à Brasília. No "passo a passo para a conferência", documento prévio para asescolas, discute-se situações concretas sobre a problemática ambiental. Os alunos ficam sabendo, por exemplo, que de cada 100 crianças internadas emhospitais, 60 estão doentes por consumirem água contaminada.Num país onde cerca de 20% da população brasileira não tem acesso ao abastecimento de água, 57% não têm seus esgotos ligados à rede pública e80% não têm tratamento de esgotos, ampliar o debate, democratizar as informações, principalmente sobre o impacto de pequenas atitudes, comoracionalizar o uso da água ou da energia, são tarefas urgentes, por isso aguardamos com muita expectativa esta primeira Conferência de MeioAmbiente.Donisete Braga é deputado estadual pelo PT e presidente da Comissão de Defesa do Meio Ambiente da Assembléia Legislativa de São Paulo.