Dois pesos, duas medidas

Opinião
07/06/2005 20:29

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Todos os brasileiros leram, chocados, as declarações daquele que há pouco era um dos comandantes da tropa de choque petista " Roberto Jefferson " segundo as quais deputados da base aliada do governo federal recebiam uma "mesada" - o mensalão " para manter-se submissos à vontade do PT. Na tentativa de conter os danos causados pela revelação o PT acabou demonstrando a pior estratégia possível, espalhando denúncias por todo lado para tentar justificar sua própria posição.

Uma curiosa amostra da múltipla personalidade petista " que já tive

oportunidade de apontar em muitas ocasiões " pode ser percebida no site do PT e nas notas oficiais divulgadas pelo partido, inclusive as malfadadas

cartilhas anti-CPI que tem norteado o discurso petista. Na nota o PT afirma

que "o PT, a exemplo de outros partidos da base do governo, apóia todas as

investigações em curso feitas pela Polícia Federal, pelo Ministério Público,

pela Controladoria Geral da União e por outras instituições, ressalvando a

presunção de inocência de todos os envolvidos (")". pouco depois, no site e

nas "cartilhas de doutrinação" o PT deixa bem claro que esta presunção de

inocência só vale para o PT e seus aliados e requenta uma dezena de denúncias formuladas pelo PT no governo passado e até hoje desprovidas de qualquer prova.

Na lógica do PT o seu governo pode tudo, inclusive o que é proibido, enquanto os adversários não podem nada, inclusive o permitido. Quando pego com a boca na botija o governo tem como única alternativa o ataque, buscando destruir as reputações alheias e criando uma impressão de que "os políticos são todos iguais", visando justificar seus deslizes bem concretos com boatos contra os outros.

Em outras palavras, tendo destruído a discussão política e a argumentação

racional " substituídas, a se comprovarem as denúncias, pelo "mensalão" - no

seu próprio campo de ação o PT e o governo agora tentam trocar a discussão

objetiva por vagos rumores, teorias conspiratórias, desmentidos nada

convincentes e, sobretudo, fazendo aquilo que faz melhor, atirando lama por

todo lado. Cabe à sociedade repudiar esta atitude infame e não se deixar

atrair para estas táticas diversionistas preocupadas em criar uma nuvem de

fumaça de natureza deletéria para o país e a política.

O PSDB jamais apoiou aventuras golpistas, pelo contrário, sempre esteve na

linha de frente da defesa da democracia e da ética na política. Tampouco os

tucanos deixaram de condenar os discursos que apontam a política como um mar de lama e os políticos como sendo todos corruptos, pelo contrário, sempre

teve clara a necessidade de resgatar a nobreza e os elevados princípios da

cidadania como pontos essenciais para a reconstrução do Estado.

Ao tentar confundir a opinião pública com um critério de moralidade "maleável" para si mesmo e draconiano para os adversários o PT só comprova a hipótese aventada pelas denúncias, pois confirma ser incapaz da discussão

política, da argumentação lógica, do convencimento por outros meios que não

algum tipo de mensalão e loteamento de cargos. Afinal, se nem em um momento na qual os argumentos sérios são tão importantes o partido e o governo não são capazes de outra coisa senão de bravatas e troca de acusações, então é de se esperar que também não consigam defender seus projetos nos outros momentos.

Também é curioso que a nota do PT cite a Controladoria Geral da União "

dirigida pelo ex-governador Waldir Pires " como sinal de que está preocupado

com o combate à corrupção no mesmo dia em que o próprio Pires, em entrevista à Folha de São Paulo, diga que não irá investigar as denúncias contra o IRB porque "não tem quadros suficientes para investigar as denúncias de irregularidades envolvendo o IRB". Isto é, o discurso de que se combate a

corrupção é desmentido até por quem o governo dá a responsabilidade de

investigá-la.

*Pedro Tobias (PSDB), médico, deputado estadual e membro das Comissões de Saúde Higiene e de Educação da Assembléia Legislativa de São Paulo.

alesp