As formas seqüenciais de Marcos Irine constroem um discurso coerente, cromático e musical


08/03/2005 14:11

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Marcos Irine obedece a uma regra que surge do amálgama de suas emoções, do vibrar de sua fantasia, do exercício de sua inteligência; em resumo, da atividade do seu ser aberto à sensibilidade e ao conhecimento da problemática da vida hodierna. O jogo cerrado e simultâneo dessas faculdades interiores do pintor deu vida a uma linguagem nítida e intensa, portanto, a um estilo bem próprio.

As relíquias de sua infância mineira, que constituem as formas de sua memória poética, foram se dissolvendo através do tempo, para dar espaço a um jogo totalmente novo, explicitamente devoto ao culto da racionalidade, a um divertimento mais ordenado, que com ironia dirige-se no caminho da cenografia e pacientemente busca uma linguagem que deverá brotar de um saber ver, não dos objetos, mas da idéia original dos mesmos.

Sua temática desenvolvida em simbologias repetitivas - cidades, casas, cortiços, favelas, coletivos, carros, barcos, seres, máscaras e religiões - se transforma em verdadeiras e próprias palavras figurativas que o pintor usa para construir um discurso aparentemente dissociado, entretanto, extremamente coerente.

Marcos Irine obedece a uma regra que surge da amalgama de suas emoções, do vibrar de sua fantasia, do exercício de sua inteligência; em resumo, da atividade do seu ser aberto à sensibilidade e ao conhecimento da problemática da vida hodierna. É tão somente o jogo cerrado e simultâneo dessas faculdades interiores do pintor, que deu vida à sua linguagem nítida e intensa, a regra, portanto, do seu estilo.

Concordamos com o crítico J. A. Ferrara, quando afirma que "A ausência de perspectiva impele-o ao enfrentamento do bidimensional onde a ortogonalidade se impõe e exige do artista aquela maturidade capaz de extrair do plano a liberdade compositiva".

Trata-se de uma sintaxe para os olhos, desenraizada de toda sugestão onírica. As formas seqüenciais que persegue são um convite alegórico para ver a beleza das coisas no que existe, também, no mais pobre e humilde. Tudo se apresenta na mais cromática alegria, repleta de ritmo e musicalidade.

Se existe ambigüidade, ela está no fato de suas imagens serem firmes, de estruturas bem definidas, de cores que resplendem e emanam uma luminosidade irradiante. Os seus personagens são "impressos" sobre a tela com um rigor de síntese que não deixa margem ao incerto. Constituem sim, uma operação estilística, onde as dificuldades voluntariamente procuradas servem a dar uma aguda e penetrante energia à sua linguagem.

Nas suas obras, uma sorte de inconsciente sentido intelectual, consegue conviver nas suas imagens e se identifica com o mais vivo sentimento da história contada e a realidade do presente. Essa superposição de símbolos, constitui uma identificação dos tempos e dos fatos criados pela pintura de Marcos Irine.

Através das obras da série Urbana, "Metrópole" e "Mascarados", doadas ao Acervo Artístico do Palácio 9 de Julho, Marcos Irine nos coloca face ao dilema: "A arte como um jogo, a inteligência da arte como jogo". Entretanto, a preocupação do pintor em buscar nos labirintos do pensamento impressões diversificadas se entrosa com a sua vitalidade criativa de um "metteur-en-scene".

O Artista

Marcos Irine nasceu em Alexania, Goiás, no de 1965. Longe de uma formação acadêmica, desde cedo se envolveu com arte. Sua progenitora, em meio aos afazeres domésticos sempre encontrava tempo para criar obras em madeira, raízes, retalhos de tecidos, palhas de coqueiros, argila, que tornava aquele universo no mínimo curioso.

Em 1987, mudou-se para São Paulo, junto com um irmão também pintor. Trabalhou na criação de carros alegóricos e em diversas Escolas de Sambas de São Paulo, entre elas a Unidos do Peruche, Nenê de Vila Matilde, Camisa Verde e Branco. Produziu cenários em poliestireno para diversas peças teatrais. A execução do espetáculo teatral "Além da Linha D"Água", dirigida por Ivaldo Bertazzo em 1998, constituiu o seu grande desafio no trabalho de cenografia. Atualmente reside em Parati, onde instalou seu próprio atelier.

Em conjunto com o artista Thiago Martins, realizou em 2002, uma exposição intitulada "Urbana", no saguão do Teatro Gazeta ao que se seguiu uma exposição no Espaço Cultural no Conselho Regional de Contabilidade em 2003 e outra no Espaço Cultural V Centenário na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo em 2004. Suas obras encontram-se em coleções particulares no Brasil, Itália e Estados Unidos e no Acervo Artístico do Palácio 9 de Julho.

alesp