Desde 15 de março deste ano, data da posse dos atuais deputados estaduais, a maioria governista - especialmente o PSDB - não permite que nenhuma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) entre em funcionamento na Assembléia Legislativa de São Paulo, apesar de cinco poderem funcionar simultaneamente. Isso é muito ruim para a imagem do maior e mais importante parlamento estadual do Brasil, porque querem tapar o sol com a peneira para dar a impressão de que São Paulo não tem problemas para serem investigados. Ao todo, há quase 30 pedidos de CPIs sobre os mais diversos temas e dos mais diversos partidos, inclusive do próprio partido do Governo do Estado. A bancada do PT, por exemplo, já tem seis pedidos de CPIs protocolados e outros a caminho, pois estão em fase de coleta das 32 assinaturas necessárias para solicitar oficialmente a instalação.Há suspeitas de superfaturamento no trecho oeste do Rodoanel e, desde a legislatura passada, venho batalhando para instalar uma CPI. Sem entrar no mérito da importância da obra, não podemos aceitar que esse trecho tenha sido contratado por R$ 338 milhões e concluído por R$ 1,2 bilhão, ou seja, quatro vezes o valor inicial. Por mais relevante que seja a obra do ponto de vista econômico e social, não há nada que justifique tamanha discrepância no preço pago por todos nós. Mas o Governo do Estado e a bancada governista na Assembléia não querem nem ouvir falar do assunto.A Febem vem ocupando cotidianamente espaços negativos na mídia nacional, seja pelas rebeliões constantes que ocorrem em suas unidades, pelas denúncias de maus tratos ou pelas mortes de um funcionário e de oito menores somente neste ano. Ao todo, foram registradas 57 rebeliões em 2003. Há pedido do deputado Antonio Mentor de CPI para investigar a falência do modelo da Febem em nosso Estado. O PSDB, no entanto, não enxerga dessa forma, ao não permitir a investigação pela Assembléia Legislativa.Há duas solicitações de CPIs por parte do deputado Cândido Vaccarezza. Uma, para investigar o sucateamento de equipamentos, fechamento de agências, redução do quadro de funcionários e desvalorização de ações no mercado pela empresa norte-americana AES, controladora da Eletropaulo. Outra, para averiguar as relações comerciais entre a Sabesp e as concessionárias de distribuição de energia privatizadas. Os governistas de nossa Assembléia fazem de conta que esses problemas não existem.O deputado Donisete Braga tem protocolada CPI para apurar as áreas contaminadas em nosso Estado, que já somam mais de 500, entre as quais as de Paulínia e Mauá, que tiveram repercussão internacional à época em que surgiram as denúncias. Já o deputado Ênio Tatto quer investigar o sucateamento da TV Cultura. Mas o PSDB não permite que se conheçam os culpados por essas situações nem se alguém prevaricou no exercício da função pública.Outras assembléias legislativas do país têm CPIs funcionando a pleno vapor. No Rio de Janeiro está ocorrendo a do "Caso Silveirinha", que apura a evasão de recursos públicos para exterior em decorrência da ação de uma máfia de fiscais que atuava na Secretaria da Fazenda daquele Estado. No Paraná há a CPI do Banestado, que investiga remessa ilegal de dinheiro para o exterior. A própria Assembléia Legislativa paulista sediou, há poucos dias, sessão da CPI da Câmara Federal que apura a pirataria no Brasil. Mas na hora de exercer uma de suas funções primordiais - investigar - nossa Assembléia Legislativa se anula como Parlamento quando se recusa a fazê-lo. Lamento profundamente essa situação na condição de 1º secretário da Mesa Diretora da Casa. Ao impedir a instalação de CPIs, a maioria governista não quer dar transparência a atos praticados pelo poder público e deixa no ar um clima de suspeição.A recusa da maioria governista em instalar os pedidos de CPIs reforça a pecha que paira sobre a Assembléia Legislativa de que não tem autonomia, por ser mera extensão do Palácio dos Bandeirantes. Ao impedir que as CPIs comecem a funcionar, os tucanos paulistas reduzem a importância da Assembléia Legislativa no contexto de um estado democrático.O que querem os tucanos com essa omissão, inclusive ferindo nossa Constituição, já que ela delega poderes aos deputados para investigar o governo? Esconder mazelas praticadas no seio do próprio governo ou demonstrar que está tudo bem e não há nada a ser investigado? Se for a primeira hipótese - a das mazelas - até é compreensível, mas não justificável, pois quem as pratica não quer mesmo saber de investigação. Se for a segunda, haja peneira para tapar tanto sol, porque a mídia mostra a realidade como ela é.*Emidio de Souza é deputado estadual (PT) e 1º secretário da Mesa Diretora da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo