Adeus Lula

OPINIÃO - *Pedro Tobias
29/10/2003 18:02

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Um dos filmes mais comentados da Mostra Internacional de Cinema tem sido "Adeus Lenin". Nesta comédia, um filho tenta esconder da mãe, comunista fanática, a queda do Muro de Berlim e o naufrágio da Alemanha Oriental, depois dela voltar de um longo coma. Imagine-se a mesma situação com um eleitor de Lula que tivesse estado sem receber notícias desde a campanha eleitoral até os últimos dias, sendo informado dos últimos acontecimentos e decisões presidenciais.

Assim que volta ao Brasil, depois de meses isolado em alguma ilha sem acesso a jornais, rádio, TV, internet ou qualquer outro meio de informação o eleitor apaixonado de Lula perguntaria a um colega, tentando colocar-se a par dos acontecimentos: "quantos empregos o governo do Companheiro Lula já gerou dos 10 milhões que ele prometeu?"

O colega, meio encabulado, diria que, em virtude do cenário desfavorável, na verdade o nível de emprego foi reduzido e sumiram mais de um milhão de empregos. Estranhando a resposta, o eleitor desinformado perguntaria: "mas o Lula garantiu que com a redução da taxa de juros e o fim da submissão ao FMI e aos banqueiros internacionais iríamos retomar o crescimento, o que deu errado?"

Mais encabulado ainda o amigo teria de dizer que os juros não baixaram, até subiram bastante e só nas últimas semanas estavam baixando, bem provável que até o final do ano conseguissem chegar ao mesmo patamar de antes da campanha eleitoral. Mas com o FMI estava tudo bem, diria o amigo, afinal não só haviam renovado o acordo, como o presidente Lula havia garantido que haveria um 'superavit' primário acima do exigido pelo Fundo, todos os banqueiros internacionais estavam aplaudindo a condução da política econômica e por isto o Risco Brasil estava despencando.

O eleitor se assusta com as notícias, mas acha melhor mudar de assunto, afinal esta coisa de política econômica é meio complicada mesmo, então o companheiro Lula poderia estar sendo obrigado a uma retirada estratégica. "Bom, mas na área social certamente as coisas estão muito bem, agora que não temos mais um governo neo-liberal devemos estar aplicando uma série de programas sociais, aumentando as verbas para a educação e para a saúde..."

Ruborizado o amigo tenta explicar que apesar de uma certa polêmica por causa da redução das verbas para a Saúde o problema já estava sendo contornado. Orgulhoso destaca que o governo tem se esforçado para conseguir tocar os programas que eram de Fernando Henrique. Tiveram problemas com o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, que atrasou para liberar o dinheiro e por isto muitas crianças foram obrigadas a votar a trabalhar, mas a questão já estava equacionada, garante o amigo.

Além disto, diz o amigo tentando animar o petista, o presidente Lula tinha anunciado na semana anterior o Bolsa Família, que iria reunir todos os programas sociais de FHC em um programa só. "E certamente vai ter um grande aumento de verbas para estes programas?", pergunta o petista.

Já meio nervoso o amigo diz que na verdade o programa foi lançado sem ter verbas ainda, mas certamente vão acertar isto até o próximo ano. "Pelo menos o governo do Lula acabou com aquele absurdo da Desvinculação das Verbas da União, que ele criticava tanto na campanha porque tirava dinheiro da saúde e da educação, não é?"

Já quase desistindo o amigo diz que a DRU é essencial para a administração, o presidente até disse que ela era o "Miolo da Picanha" da reforma tributária que estavam votando no Congresso. "Ah, estão votando a Reforma Tributária, que bom, o Lula vai cumprir as promessas de campanha de reduzir a carga tributária, diminuir os impostos da cesta básica, acabar com a guerra fiscal entre os estados, fortalecer os municípios...".

Aparentando nervosismo o amigo desiste, diz que tem uma reunião urgente no Ministério da Saúde, onde conseguiu um emprego, e tenta se despedir do amigo sem responder. O petista estranha que o amigo esteja trabalhando na saúde porque nunca soube que ele tivesse experiência na área, mas antes de se despedir não pode deixar de fazer mais uma pergunta: "E o Fome Zero hein, certamente já deve estar dando três refeições por dia para todos, afinal só com o dinheiro que o FHC usava nas viagens dava para manter este programa..."

Antes de ser enquadrado como radical e perder o emprego o amigo recomenda ao petista que volte para a ilha ou faça um bom plano de saúde com cobertura cardíaca e se despede rapidamente.

*Pedro Tobias (PSDB) é deputado estadual e membro das Comissões de Educação e Saúde e Higiene da Assembléia Legislativa de São Paulo.

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