Ângela De Stéfani: uma leitura poética refletida em seu equilíbrio geométrico

Emanuel von Lauenstein Massarani
24/10/2002 14:01

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Acredito que Ângela De Stéfani tenha um fascínio pelos amplos espaços, o fascínio pelos grandes templos, através dos quais irrompem raios luminosos, de uma luz quente típica do céu dos trópicos, agigantados por um cromatismo predominantemente avermelhado e com fundos naturais.

A realidade abstrata e o dinamismo visual da artista, com todos os corolários e acréscimos, transformam-na, ao mesmo tempo, em pintora-escultora e arquiteta de uma realidade visual, que tem sua raiz na observação das coisas, dos fatos, da vida e da existência cotidiana de hoje, isto é, nem de ontem, nem de amanhã.

A propósito, onde nasce a realidade visual? Nasce de um sêmen interior que não vemos, nem conhecemos. Estudar, pesquisar e trabalhar constituem um trinômio importante para os resultados que se almejam.

Passando de suas emoções espirituais, através de formas geométricas, velocidade, conquistas espaciais, dinamismos ópticos, sentiu a artista a necessidade de iniciar-se numa linguagem adversa do habitual, mesmo se exprimindo através de formas e linhas.

Ao observarmos um quadro de Ângela De Stéfani, notamos imediatamente que, além da informação de legenda, leva-nos ao núcleo central, ao sêmen, indicando, assim, uma pesquisa sempre impregnada de interioridade.

Acreditamos ser inútil tentar uma leitura técnica, científica, ou filosófica de sua obra, como é habitual aos críticos dos abstratos. Será oportuno ater-se a uma leitura poética, refletida em seu equilíbrio geométrico.

A ordem e a harmonia da composição, enriquecidos não somente pela observação, mas também e, especialmente, da consciência da realidade humana, cultural e social contemporânea, são visíveis na obra doada pela artista ao Acervo Artístico do Palácio 9 de Julho, intitulada Os Três Poderes. Usando estrutura de madeira, coberturas de marmoleum, tinta acrílica e verniz, consegue equilibrar o modo de ser das cores que usa, sem buscar uma vantagem ilusória em sua literatura pictórico-material.

A dinâmica das formas nos parece ser a base de suas essenciais preocupações, elas integram eficazmente nossa época que se baseia sobretudo em pesquisas espaciais. O dinamismo, ela o define sob formas de teorema e as expressa em suas pinturas com relevos escultóricos.

A Artista

Ângela De Stéfani é o nome artístico de Ângela Maria de Stéfani Ruggiero. Nasceu em São Paulo e fez a sua formação básica em Jaboticabal, onde no período de 1972 a 1977, cursou a Faculdade de Artes Plásticas São Luiz.

Procurando diversificar a sua formação, cursou na University of Hawaii (USA), em 1978, cursos de Pintura Chinesa e Artes Plásticas. De 1990 a 1992, cursou a Escola Panamericana de Artes em São Paulo e teve aulas com o Mestre Castillo. Dirigiu uma escola de artes para crianças, em Jaboticabal (1995).

Participou de diversas exposições coletivas e individuais, entre as quais ressaltamos: Salão de Artes de Campinas (1992); Artefatos - Mostra de Decoração em São Paulo (1993); Artefatos, em conjunto com o Arquiteto Angelo Colucci (1994); Casa Interior de Ribeirão Preto (1994, 1995 e 1996); Mapa Cultural Paulista (1997); Escola de Artes de Jaboticabal (1997); Salão de Artes de Rio Claro (1998); Restaurante Otello, em Jaboticabal (1998); XVIII Salão de Artes Plásticas de Araraquara (1999); XVII Salão de Artes Plásticas de Rio Claro (1999); Curadoria da II Bienal de Jaboticabal (2000); e Salão de Artes de Rio Claro (2001). Participou da Comissão Organizadora e Executora da Bienal de Arte e Cultura de Jaboticabal, em 1998.

Ao longo de sua carreira recebeu o Troféu Imprensa como Artista Plástica, concedido no Dia Internacional da Mulher em Jaboticabal (1999) e a Menção Honrosa no XVII Salão de Artes Plásticas de Rio Claro (1999).

Atualmente desenvolve ações junto ao Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal de Jaboticabal, orientando artistas, e promove atividades com alunos da APAE.

alesp