Sarah Goldman Belz retransforma o ar, a luz e o sentido pânico da natureza

EMANUEL VON LAUENSTEIN MASSARANI
01/10/2002 15:32

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A arte de hoje obedece uma pluridisciplinidade que invade a ciência e a tecnologia. Os "ismos", as tendências ou as correntes específicas coexistem numa gigantesca confrontação que gera o renovar da criação.

O expressionismo abstrato de Sarah Goldman Belz nos transmite imagens criadas tanto pelo gestual quanto pelo vigor do seu "metier" de pintora. O seu discurso pictórico explode no tratamento da cor. Claros e escuros são tratados com justo equilíbrio de tons, embora evidenciando o forte temperamento da artista.

Longe de qualquer intelectualismo banal ou teorias fantasmagóricas, suas obras possuem texturas que criam um clima de mistério e formas enigmáticas. Em suas superfícies, sejam planas, enrugadas ou repletas de tramas, sejam brilhantes ou opacas, o ritmo é constante.

O crítico Alberto Beuttenmüller ressalta que seu expressionismo "é tropical, de cores fortes, expressionismo mágico, manejado pela intuição e os mistérios de sua consciência". Assim é a obra de Sarah Goldman Belz, doada pelo deputado Walter Feldman ao Acervo Artístico da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, intitulada O Leque e realizada em acrílico sobre tela.

De nossa parte, acreditamos que a sabedoria de sua pintura é num certo sentido escondida. Não advertimos. Antes, temos a impressão, ao primeiro impacto, de um abalo dos sentidos. Depois, a fantasia reúne os sentidos que pareciam esparsos e atrás da preciosa força da luz, no interior mesmo da matéria, alguma coisa se agrega, a estrutura se recompõe.

O quadro se torna, frente a nossos olhos, um mundo recriado, a memória de algo que se infiltrou dentro de nós e que não sabíamos possuir: magia da cor e seu poder de transfiguração. A pintura de Sarah Goldman Belz se retransforma, mexe no interior da memória, mas não se apaga. A artista sabe lidar com o ar, a luz e o sentido pânico da natureza.

A artista

Sarah Goldman Belz nasceu em São Paulo, em 1940. Possui uma formação das mais diversificadas: estudou piano, de 1947 a 1953, com Israel Pelafski; violão, de 1964 a 1968, com Paulo e Elza Nogueira; trabalho de voz com Gioconda Peluso, em 1964; desenho, de 1970 a 1971, com Antônio Carelli, na FAAP. De 1971 a 1975, freqüentou, na Escola Brasil, cursos de pintura com Carlos Fajardo, desenho com Frederico Nasser, escultura com José Resende, projetos com Luiz Paulo Baravelli; oficina de metais no SENAC, em 1954; gravura em metal no atelier de Rafael Maia Rosa, de 1975 a 1976; expressão corporal com Ana Maria Barros, de 1975 a 1976; trabalho de corpo com José Ordoñes, Wilson Silva e Cristina Bandini, de 1982 a 1984. Formou-se, em 1959, pela Faculdade de Higiene e Saúde Pública da USP.

Desde 1975, participa de salões, exposições coletivas e mostras individuais, no Brasil e no exterior, destacando-se: exposição de gravuras do Grupo 4ª Feira, na Galeria Alerida, em Madri (Espanha), em 1977, e na Whipptons Gallery, em Johannesburg (África do Sul), em 1978; mostra de aquarelas, na Fundação Juan Miró, em Barcelona (Espanha); Salão Internacional Brasil Extremo Oriente, no Museu de Belas Artes de Taipê (Taiwan) e Bienal Internacional de Havana (Cuba), em 1986; coletiva de gravuras, na Galeria Galpão em Montevidéu (Uruguai), em 1987; 1ª Exposição Brasil-China, na Galeria de Belas Artes de Pequim (China), em 1988; Museu de Arte Moderna do Século XX, em Los Angeles (Estados Unidos), em 1990. Expôs, ainda, em Bogotá, em Cali (Colômbia) e em Salerno, Nápoles, Roma e Milão (Itália), numa mostra individual organizada pela Galeria La Seggiola, em 1991.

Suas obras figuraram em exposições coletivas e individuais no Museu de Arte Brasileira (FAAP - São Paulo), no Museu de Arte de São Paulo (MASP), no Paço das Artes (São Paulo); no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Porto Alegre), no Museu Villa Lobos (Rio de Janeiro), no Museu da Casa Brasileira (São Paulo), no Museu de Arte Contemporânea da USP (São Paulo) e no Museu de Arte Contemporânea de Campinas.

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