CHORO PREMATURO - OPINIÃO

Milton Flávio *
24/08/2001 10:15

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O ministro Paulo Renato de Souza, como se sabe, após forte reação de estudantes, de vários segmentos da sociedade e de parte da mídia, resolveu pôr fim ao monopólio das carteirinhas, há anos mantido pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e pela União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes). O objetivo é estender o benefício do pagamento da meia-entrada em eventos esportivos e culturais a todos os jovens com até 18 anos de idade. Para usufruí-lo, basta que apresentem na bilheteria o documento de identidade. Para os que têm idade superior a esta, é preciso apresentar o RG e um comprovante da condição de estudante, universitário ou não. A concessão da meia-entrada, portanto, não está mais subordinada à compra de uma carteirinha das entidades.

Como era de se esperar, a medida provocou forte e imediata reação dos dirigentes da UNE e da Ubes. Eles acabam de perder sua principal fonte de receita e, portanto, parte significativa dos recursos que lhes permitiam financiar movimentos de protesto, todos coloridos com a bandeira do PCdoB, partido ao qual está filiada a maioria dos dirigentes.

Não foram apenas, no entanto, os supostos líderes estudantis que se posicionaram contra a medida provisória (MP) que acabou com o monopólio da UNE e da Ubes. Empresários do setor artístico e esportivo alegam que, com o provável crescimento da venda de meias-entradas, terão que aumentar o preço dos ingressos para evitar prejuízos. Com isso, todos seriam prejudicados: os que pagam meia-entrada e os que pagam o valor total do ingresso.

Penso que a questão deve ser analisada sob dois pontos de vista: o ético e o econômico. A meu ver, não havia nada que justificasse, exceto um corporativismo primário, o monopólio da UNE e da Ubes na emissão das carteirinhas. Foi por essa razão que no primeiro semestre apresentei à Assembléia Legislativa de São Paulo projeto que garantia aos portadores do RG escolar o mesmo direito dos detentores das carteirinhas das entidades estudantis. Até porque, se mais não fosse, a imensa maioria dos estudantes não se sente representada pela UNE e pela Ubes.

Quanto ao aspecto econômico, parece-me precipitado o anúncio de que os valores dos ingressos terão aumento. Sabe-se que as salas de espetáculo, cinemas inclusive, não operam com sua capacidade máxima. A ociosidade é grande, principalmente durante os dias da semana. Um eventual aumento na venda de meias-entradas, ao contrário, poderá contribuir para elevar a receita dos empresários do setor, além de beneficiar um número expressivo de pessoas. O choro atual, portanto, embora totalmente previsível, parece-me precipitado. O desafio que vale a pena está em aumentar o número de espectadores e não o valor dos ingressos.

*Milton Flávio é deputado estadual pelo PSDB e presidente da Comissão de Assuntos Internacionais da Assembléia Legislativa de São Paulo

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