A maior obra em construção no Brasil deverá ter 170 quilômetros de extensão e pretende retirar dos centros urbanos da Grande São Paulo o tráfego pesado de veículos. O projeto do Rodoanel, desenvolvido por meio de convênio entre a União e o Estado, é grande não apenas pela extensão, mas porque está orçado em aproximadamente R$ 8 bilhões, valor equivalente ao orçamento anual da Capital. Até agora, o Rodoanel já recebeu R$223,8 milhões da União e já foram gastos R$649 milhões no empreendimento.O contrato para execução do trecho Oeste, referente a 31,6 Km, inicialmente orçado em R$ 338,9 milhões já consumiu, em valores corrigidos, mais de R$ 409,2 milhões. Já foram pagos 100% do contratado, mas as obras entregues até agora correspondem somente a 65% das obras contratadas.E qual foi a atitude do governo do Estado diante do descumprimento das empreiteiras? Era de se esperar alguma ação exigindo o término do serviço. Ao contrário, o que se viu foi o aditamento de 69,92% sobre o contrato inicial. É um flagrante desrespeito à Lei de Licitações, que prevê, em casos excepcionais, o reajuste máximo de 25% sobre o valor contratado. Mas é um desrespeito, principalmente, ao cidadão paulista, de cujos bolsos, afinal, acabam saindo os recursos para pagar as empreiteiras, em detrimento dos recursos orçamentários que seriam destinados às áreas sociais .Os fortes indícios de que há irregularidades fizeram com que as procuradoras federais Maria Luísa Duarte e Isabel Groba recomendassem ao presidente do DERSA que o limite de 25% para verbas adicionais em contratos com a administração não pode ser ultrapassado. Outra grave suspeita de irregularidade é o fato de que o Estado já gastou R$ 206,35 milhões para desapropriar apenas 78 imóveis, estando previstos R$ 131 milhões para desapropriar 553 imóveis. O Tribunal de Contas da União já apontara em 1999 um superfaturamento em 247% nos laudos judiciais em relação aos laudos administrativos.O escândalo é tão grande que mereceu manchete em vários veículos de comunicação. Apesar de escandaloso, não chega a ser original. Na Capital, as administrações malufistas utilizaram-se dos mesmos expedientes. O superfaturamento de obras gigantescas, como o túnel Airton Senna, agora está sendo investigado pela CPI da Dívida na Câmara Municipal. Independente do resultado a que se chegue, o povo já deu o troco nas urnas aos malufistas. Mas, e os tucanos? Tão afeitos ao discurso da ética demonstram, no caso do Rodoanel, a mesma prática condenável.Todos esses indícios de malversação de recursos públicos nos levaram a pedir ao Ministério Público a abertura de Ação Civil Pública, a fim de apurar as possíveis irregularidades. Também pedimos ao Tribunal de Contas do Estado que faça sua investigação.Na condição de deputado estadual, é nossa obrigação fiscalizar a utilização dos recursos públicos. Por isso, além do pedido de Ação Civil Pública, estamos requerendo, junto com toda a bancada de oposição, a instalação de um CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) a fim de abrir a caixa preta do Rodoanel, antes que todos os fatos sejam consumados e o contribuinte, mais uma vez seja lesado. Nivaldo Santana, deputado estadual pelo PCdoB, membro da Comissão de Serviços e Obras Públicas da Assembléia Legislativa