Opinião - Tributo a Romazzini


03/12/2010 16:37

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"É melhor viver dez anos a mil do que mil anos a dez." A frase cantada por Lobão em um de seus sucessos musicais parece ser a síntese do que foi a vida do vereador de Guarujá Luís Carlos Romazzini, meu companheiro de PT, de lutas e ideais. Vivia intensamente cada minuto. Parecia estar sempre com pressa. Acelerado na defesa da população, vigoroso no combate aos desvios do poder público, firme na busca de seus objetivos.

Professor de história, como eu, e advogado, Romazzini levava para a política todo o inconformismo diante da falência do sistema educacional. Para ele, a crise do setor era um dos ingredientes para o crescimento da violência. Aliás, esse foi exatamente o tema de um dos últimos artigos que divulgou em seu blog. Contundentes, suas crônicas buscavam despertar consciências.

Em quase uma década de convivência partidária, travamos inúmeras lutas conjuntas. Foi assim no combate à instalação de um terminal de contêineres em área próxima às praias de Guarujá e nas denúncias contra a superlotação da cadeia pública local. Estivemos juntos na defesa de importantes entidades da cidade, como a Apae e o CAMPG. Mais recentemente, trabalhamos em parceria em defesa dos milhares de profissionais marítimos da região.

A aproximação se intensificou este ano, quando produzimos uma dobrada nas eleições. Em dado momento de uma conversa descontraída, relembramos histórias e rimos muito. Por trás do político de discursos e práticas contundentes, revelou-se o companheiro bem-humorado, brincalhão, de riso fácil.

Romazzini vivia a política com paixão e conhecimento. Tinha números e estatísticas sobre seu desempenho em cada canto de Guarujá, nas eleições que disputara até então. Falava com desenvoltura sobre os problemas da cidade que aprendeu a amar, vindo, também como eu, de um pequeno município do interior de São Paulo. Não escondia de ninguém o seu sonho de chegar à prefeitura.

Saiu fortalecido das urnas para a disputa municipal de 2012. Afinal, foi o candidato a deputado estadual mais votado da cidade, ultrapassando os 18 mil sufrágios. Era apontado pelo Partido dos Trabalhadores como favorito na sucessão municipal.

Infelizmente, todo esse projeto desfez-se sob o impacto das balas disparadas pelo frio cano de uma arma. Uma execução fria e covarde, na calada da madrugada de 25 de novembro último. Cinco tiros calaram a voz do Roma, como gostava de ser chamado pelos mais próximos. Assassinos impiedosos ceifaram uma vida, dilaceraram uma família e deixaram atônita toda uma cidade. A revolta, a tristeza, o inconformismo e até a desesperança estavam esculpidos nos rostos, nas lágrimas e nos olhares perdidos das pessoas que dele foram se despedir.

A nós que ficamos, companheiros de lutas e de sonhos, cabem algumas missões. A primeira delas é não permitir, de forma alguma, que a morte do Roma fique impune. Os culpados precisam ser rapidamente identificados e punidos. A outra é não recuar um milímetro na defesa dos interesses e dos direitos da população de Guarujá e de Vicente de Carvalho. Gente ordeira e trabalhadora, para a qual o Roma dedicou parte significativa da vida e defendeu até a morte. A nossa maior homenagem é o compromisso de continuidade da sua luta por uma sociedade mais justa e feliz.



*Maria Lúcia Prandi é educadora, cientista política e deputada estadual pelo PT.



"Romazzini vivia a política com paixão e conhecimento. Era apontado pelo Partido dos Trabalhadores como favorito na sucessão municipal"

alesp