O COMPUTADOR VAI À GUERRA - OPINIÃO

Roberto Engler*
28/11/2000 15:58

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No filme U-571 - A Batalha no Atlântico é relatado um importante episódio da Segunda Guerra Mundial: a captura, pelos Aliados, das máquinas Enigma, utilizadas pelos nazistas para a troca de informações codificadas.

Com o sistema Enigma, os nazistas conseguiram ficar por nove meses com seus códigos de guerra invioláveis, ou seja, eles se comunicavam, planejavam ataques, emitiam comandos, tudo livremente, sem a interceptação das suas mensagens pelos inimigos. Essa inviolabilidade nas comunicações garantiu o sucesso de muitas ações nazistas.

A Enigma foi apenas um dos sistemas de codificação e decodificação de mensagens inventados durante esse período. Era a Segunda Guerra Mundial motivando, antecipando a criação do nosso tão popular computador, assim como a chamada Guerra Fria, muitos anos depois, deu início ao conceito que futuramente se transformaria na Internet.

O curioso é que hoje o computador e a Internet também servem a fins bélicos. Só que nas trincheiras da educação.

Está em curso uma silenciosa batalha nos 645 municípios de São Paulo: a construção da maior rede informatizada de ensino público do país e da América Latina. Os inimigos a serem combatidos, desta vez, são o atraso e a falta de qualidade do ensino público. A briga é boa, mesmo porque o governo do Estado começou em franca desvantagem.

Antes do governo Covas, a rede estadual tinha apenas 1.500 micros instalados nas escolas. Atualmente, esse número chega a 30 mil micros. E vai aumentar. No final de outubro, o governador anunciou um pacote de investimentos de R$ 600 milhões na área da educação. Desse total, R$ 30 milhões serão direcionados à informática educacional. Com esse investimento, o governo do Estado vai instalar mais 1.300 salas de informática, fazendo com que todas as 3.500 escolas de 5.ª a 8.ª séries e de ensino médio passem a ter sistemas completos com no mínimo 10 computadores.

O avanço também atinge a comunicação entre os componentes da rede de ensino, que era inadequada. Hoje todas as escolas, delegacias de ensino e órgãos centrais estão interligados e podem se comunicar em tempo real, sem burocracia e com economia. Para tornar possível toda essa agilidade, foram treinados mais de 50 mil profissionais, porque não adianta investir em equipamentos sem investir no ser humano, seu usuário.

Um bom exemplo de como o governo do Estado está ganhando a guerra da informatização das escolas é o município de Santa Bárbara, com suas 34 escolas estaduais.

Todas as escolas barbarenses têm pelo menos um microcomputador para a área administrativa. Dez escolas possuem laboratórios de informática. Há algumas semanas, mais três escolas foram beneficiadas com recursos para a compra dos equipamentos da sala de informática.

Agora multiplique o que está acontecendo em Santa Bárbara por 644 e você terá a dimensão exata da ação do governo Covas na área da informática educacional. É um verdadeiro arsenal de máquinas e programas invadindo a rede de ensino, colocando a escola - e quem faz e freqüenta a escola - em tempo real e no foco das atenções. Sim, porque educação é fim, informática é meio.

A guerra que hoje solicita e reinventa o computador e a Internet tem fins muito mais nobres e construtivos do que as guerras que "inventaram" o computador e a Internet. A nossa luta maior é pela qualidade do ensino, pela diminuição das diferenças sociais e culturais. Pela democratização das informações. Pela formação dos profissionais do futuro, preparados para as exigências do moderno mercado de trabalho, no qual o computador é apenas mais uma ferramenta.

O governo do Estado, ao informatizar a rede de ensino, cumpre sua obrigação: coloca o computador a serviço da guerra pela educação de qualidade.

*Roberto Engler é matemático, professor da USP e deputado estadual, líder do PSDB na Assembléia Legislativa..

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