Um voto para mudar

OPINIÃO - Arnaldo Jardim*
04/11/2002 15:33

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As eleições gerais deste ano apresentaram uma característica marcante: a ausência de radicalismo. Na festa da democracia brasileira, as urnas deixaram claras as preocupações do eleitor com as questões sociais e com a necessidade de se buscar um consenso nacional na tentativa de resolver, em parte, os graves problemas brasileiros.

A eleição de um operário para a Presidência da República acabou por mostrar o quanto o PT evoluiu em direção à centro-esquerda, ao deixar de lado o discurso radical e buscar - algo impensável em pleitos anteriores - alianças e acordos com outros partidos, atitude que soaria como heresia no passado. O partido sinalizou seu comprometimento com a capacidade de conviver com opiniões divergentes, resultando em posições mais moderadas, o que atraiu o eleitor. Ao se apresentar como oposição propositiva, e não mais negativa, o PT conquistou os corações - e os votos - do eleitorado.

Em muitos casos, o voto do eleitor foi de oposição, como ocorreu no Rio Grande do Sul, onde o PT, há anos no poder, perdeu as eleições para o governo do Estado. Em outros, o quadro foi diferente, como em São Paulo, onde o governador se reelegeu com um discurso equilibrado, de busca de convergência.

Mais do que a oratória dos políticos, mudou a percepção do eleitor, que deu exemplo do ponto de vista institucional. Mesmo nos momentos mais nervosos das campanhas, o brasileiro não se deixou envolver por sectarismos e acusações infundadas. Ao contrário, puniu os levianos não lhes dando os votos solicitados e ignorou solenemente as diversas "explicações políticas" para as oscilações dos mercados financeiros, principalmente para a alta do dólar em relação ao real. Os efeitos da turbulência do mercado influenciaram mais os profissionais da área, não causando "o medo" esperado. Por fim, o mercado assimilou um PT mais moderado e o sistema de transição proposto pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, enquanto o cidadão comum usou a democracia e seu direito de voto para buscar mudanças. Nada mais correto, em um País conhecido internacionalmente por ter uma das piores distribuições de renda do mundo.

Se o conservadorismo mostrou-se o grande derrotado nas eleições de outubro, por falta de representantes que aglutinassem seus interesses, a centro-esquerda foi a grande vitoriosa. Há um ambiente de diálogo entre os dois partidos que tendem a dominar o cenário político brasileiro - o PT e o PSDB -, o que poderá levar a outra mudança na próxima legislatura: a busca pelo consenso nacional, em que os interesses do País se sobreponham aos dos partidos. Isso não significa um cheque em branco para o novo presidente; afinal, o PSDB pretende ser uma oposição fiscalizadora ao governo Lula.

No entanto, essa necessidade de um acordo nacional tende a chegar às assembléias estaduais. É esse tipo de atuação que pretendo ter no meu próximo mandato: uma posição propositiva, afirmativa, com idéias e disposição para obter o consenso, uma vez que a centro-esquerda é o caminho direto para a democracia, que avance além do institucional e seja também econômica e social.

*Arnaldo Jardim, 47, é engenheiro civil, ex-secretário da Habitação (1993), relator do Fórum SP - Séc. XII, deputado e presidente estadual do PPS.

E-mail: arnaldojardim@uol.com.br

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