Santo Dias, um símbolo da luta contra o regime militar


08/12/2008 20:17

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Santo Dias da Silva nasceu em 22/2/1942, na fazenda Paraíso, município de Terra Roxa, no Estado de São Paulo. Entre 60 e 61, junto com outros empregados da Fazenda Guanabara, participou de um movimento por melhores condições de trabalho e salário. Por isso, sua família foi expulsa da colônia em que morava, e teve de morar na cidade.

Seus pais e seus sete irmãos continuaram a trabalhar na roça, como bóias-frias. Santo resolveu procurar outras oportunidades e foi morar em Santo Amaro, na região sul da capital de São Paulo, área de grande concentração de indústrias. Ali, conseguiu trabalho como ajudante geral na Metal Leve, empresa de componentes metalúrgicos.

No início da década de 1960, o movimento operário lutava por aumentos salariais e pelo 13º salário. Ainda sem muita clareza política, Santo participou dessas reivindicações. Em 1965, conhecedor da intervenção no sindicato de sua categoria, iniciou sua atuação no grupo que formava a Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo.

A atuação de Santo Dias não se ateve ao movimento operário, uma característica importante das novas lideranças surgidas na capital, durante a ditadura militar. Como católico praticante, era membro ativo das CEBs (comunidades eclesiais de base) e dos movimentos de bairro que surgiram da ação desses grupos: lutas por transportes, escolas, melhorias nas vilas de trabalhadores. Participou das coordenações do Movimento do Custo de Vida, entre 1973 e 78, ao lado de sua mulher, Ana Maria do Carmo, liderança feminina expressiva entre os clubes de mães.

O ano de 1979 foi um ano agitado. Em agosto, depois de vários anos de intensa movimentação popular exigindo anistia aos presos políticos e exilados, o governo editou a Lei de Anistia, estendendo-a também a torturadores e participantes do aparato repressivo. Em março, a Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo fez seu primeiro congresso definindo como princípios de sua atividade uma frente de sindicalistas que lutavam pela mudança da estrutura sindical, que deveria ser independente do Estado e organizada a partir das comissões de fábrica.

Santo Dias participa desse processo agora mais amadurecido pela prática. Em outubro, os metalúrgicos começam nova campanha salarial. Dessa vez, a reivindicação era 83% de aumento dos salários, não aceita pelos patrões. Uma assembléia com seis mil trabalhadores na rua do Carmo decidiu, numa sexta-feira, iniciar a greve.

No primeiro dia da paralisação, 28 de outubro, as subsedes do sindicato, abertas para abrigar os comandos de greve, foram invadidas pela Polícia Militar, que prendeu mais de 130 pessoas. Sem o apoio do sindicato e com a intensa repressão policial sobre sua ação, os metalúrgicos passaram a se reunir na Capela do Socorro, na zona sul.

No dia 30/10, Santo Dias, como parte do comando de greve, saiu da Capela do Socorro para engrossar um piquete na frente da fábrica Sylvânia e discutir a greve com os operários que entravam no turno das 14h. Viaturas da PM chegam e Santo Dias tenta dialogar com os policiais para libertar companheiros presos. A polícia agiu com brutalidade e o PM Herculano Leonel atirou em Santo Dias pelas costas. Ele foi levado pelos policiais para o Pronto-Socorro de Santo Amaro, mas já estava morto. O corpo de Santo Dias só não desapareceu por conta da coragem de Ana Maria, sua esposa. Ela entrou no carro que transportava seu corpo para o Instituto Médico Legal, apesar de abalada emocionalmente e pressionada pelos policiais a descer, não cedeu.

Divulgada a notícia de sua morte pelos vários meios de comunicação, seu corpo seguiu para o velório na Igreja da Consolação. No dia 31 de outubro, 30 mil pessoas saíram às ruas da capital para acompanhar o enterro e protestar contra a morte do líder operário, pelos direitos de livre associação sindical e de greve e contra a ditadura.

Fonte: www.cedem.unesp.br/acervos/acervo_santo.htm

alesp