MAIS EDUCAÇÃO, MAIS SAÚDE

Milton Flávio*
30/11/2000 17:52

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Ao contrário do que muita gente imagina, o câncer é um mal que não atinge apenas os adultos. Todos os anos, um sem-número de crianças são igualmente vitimadas pela doença. Felizmente, por conta dos sucessivos avanços verificados na Medicina, é crescente o número de pacientes que são curados. Dependendo da localização do tumor e de sua agressividade, o percentual de cura chega a 80%.

O problema é que o tratamento obriga as crianças a um longo período de internação hospitalar, freqüentemente de seis meses a um ano. É o que também ocorre com aquelas que sofrem de patologias renais crônicas e que são submetidas à hemodiálise. Nesse espaço de tempo, as crianças ficam completamente afastadas de seu principal ambiente social: a escola. Em função disso, tendem a ficar desmotivadas, ansiosas e deprimidas. O que acaba por dificultar o processo de cura e, por conseguinte, por aumentar o tempo de internação. Quando voltam para a escola, após um afastamento involuntário e prolongado, sentem-se em desvantagem em relação ao seu grupo, emocional e intelectualmente.

Anos atrás, discutia-se a conveniência (ou não) de os pais poderem permanecer nos hospitais ao lado de seus filhos. Questionava-se qual o impacto que sua presença teria no processo de recuperação dos pacientes. Claro que se está falando de hospitais públicos, pois quem pode pagar um hospital particular nunca enfrentou esse tipo de limitação. Hoje, essa é uma discussão completamente superada: não restam dúvidas de que a presença física e o apoio emocional dos pais são fundamentais no processo de cura de crianças e adolescentes.

Em vários países, crianças internadas por um longo período de tempo em hospitais, além do apoio e presença dos pais, contam também com assistência educacional. Em São Paulo, a secretaria estadual da Educação mantém convênios com alguns hospitais da Capital - poucos, é certo - e faz esse tipo de atendimento, fundamental para a recuperação dos internos.

Com o objetivo de ampliar esse atendimento a todas as regiões do Estado e, dessa forma, atender a um número maior de crianças, apresentei em 1996 à Assembléia Legislativa o projeto de número 369/96. Vencidos os obstáculos, consegui aprová-lo em plenário no final de 1999. Ocorre que, na ótica da Secretaria Estadual da Educação, a prestação dessa assistência educacional aos internos já estaria prevista em legislação federal. O que, a rigor, não acontece, posto que ela se refere às crianças com deficiências mentais e motoras. Em função dessas discordância conceitual, a proposta acabou sendo vetada pelo governador.

Graças à sensibilidade dos deputados estaduais, no entanto, o veto foi derrubado pela Assembléia Legislativa no final de novembro. A lei será promulgada nos próximos dias. Estou convicto de que, trabalhando em parceria, as secretarias estaduais de Saúde e Educação farão um belo trabalho com as crianças e adolescentes internados em hospitais públicos, contribuindo significativamente para a sua cura e para a redução do tempo de internação. O que, por si só, compensa, e muito, os gastos adicionais com professores e estagiários.

Milton Flávio é deputado estadual pelo PSDB, líder do governo na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo e professor da Faculdade de Medicina de Botucatu (Unesp)

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