Estamos dando o primeiro passo. O governo Lula está lançandoo Programa Brasil Alfabetizado, com o intuito de erradicar oanalfabetismo no Brasil. É uma iniciativa louvável que contacom a participação da iniciativa privada e dos governosestaduais.O primeiro convênio do programa foi assinado no últimosábado, no Acre. Pelo acordo, empresas, governo estadual egoverno federal, através do MEC, estarão trabalhando juntospara acabar com o triste número de 20 milhões de analfabetosexistentes no país.No Acre, o programa prevê aulas nas escolas, em espaçoscomunitários, nos locais de trabalho e até nas comunidadesindígenas. A capacitação dos educadores e o incentivo aprofessores e alunos - inclusive com prêmios em dinheiro -também estão previstos.O problema do analfabetismo é uma doença crônica que afeta onosso país. E acho que é assim que deve ser visto e tratado.Todos nós já vimos projetos propondo o fim do analfabetismono Brasil. Muitos anos e governos depois da primeiratentativa e aqui estamos nós: dando o primeiro passo.Cabe dizer que o governo anterior, assim como outros antesdele, trabalhou nesse sentido. Dados do Instituto Brasileirode Geografia e Estatística (IBGE) dão conta de que o ProgramaAlfabetização Solidária, montado pelo governo FHC e hojetransformado numa ONG, atuou na alfabetização de milhões debrasileiros nos últimos anos.Segundo os dados levantados pelo Censo 2000, dos 10municípios com os piores índices de analfabetismo no censo de1991 somente dois continuavam na lista (Itamaraty/AM eBranquinha/AL). Com mais de 70% das salas de aula instaladasna zona rural dos municípios, a redução do índice deanalfabetismo nessas regiões foi quase duas vezes maior que aredução do índice nacional. De acordo com o IBGE, a reduçãodo analfabetismo para o grupo de pessoas com 15 anos e maisde idade foi menor, embora significativa, passando de 20,1%em 1991 para 13,6% em 2000. No Nordeste, onde mais de 75% dosmunicípios foram cobertos pelo Alfabetização Solidária, amédia da redução foi maior, mais de 11%, no mesmo período.Os dados do último censo chamam a nossa atenção: ainda temos24,6% da população do nordeste analfabeta (eram 37,5% em1991); 15,6% da população da região norte (23,9% em 1991); nocentro-oeste a taxa de analfabetismo está em 9,7% (contra15,6% no censo anterior). E os índices são altos também nasregiões consideradas mais ricas: são 7,5% de analfabetosentre a população da região sudeste (eram 11,5% em 1991) e 7%entre a população do sul do país (10,8% em 1991).Segundo notícia veiculada pela agência Reuters os indicadoreseducacionais melhoraram na década de 1990, "mas o número depessoas analfabetas permanece extremamente elevado".A população brasileira atingiu, segundo o Censo 2000, 169,8milhões de habitantes, concentrando 2,8% da populaçãomundial, de 6,1 bilhões de pessoas, conforme as estatísticasda Organização das Nações Unidas (ONU). Em 1991 a populaçãosomava 146,8 milhões de habitantes. De acordo com os dados doinstituto a proporção de pessoas alfabetizadas com 10 anos oumais de idade aumentou de 80,3% em 1991 para 87,2% em 2000.Ou seja, aproximadamente 120 milhões de brasileiros seconsideraram aptos a ler e escrever.Ainda assim, apesar do aumento no número de pessoasalfabetizadas, existiam no país, no ano 2000, 17,6 milhões depessoas de 10 anos ou mais de idade não-alfabetizadas, "o querepresenta ainda uma das maiores taxas de analfabetismo daAmérica Latina", como lembrou a Reuters ao comentar os dados.De acordo com as últimas notícias veiculadas pela Imprensa, ogoverno federal trabalha com o número de 20 milhões deanalfabetos.E por quê continuamos com 20 milhões de analfabetos em solobrasileiro? Por quê tantos programas e tantas boas intençõesaté hoje não conseguiram resolver a questão do analfabetismonacional?Será que de tempos em tempos não estão surgindo novasgerações de analfabetos, que aumentam as estatísticas? Seráque não são tantos os problemas enfrentados pelo povobrasileiro que o fato de não saber ler e escrever tenhaficado, para os analfabetos, em segundo plano? Será queestamos fadados a estar sempre dando o primeiro passo?Espero que não. E espero que, com as novas propostas dogoverno Lula, este novo programa dê certo.Mas não me furto dizer que, mesmo com a alfabetização dos 20milhões de analfabetos hoje existentes no Brasil, estaremosainda no primeiro passo. Isso porque, dentre os 120 milhõesde brasileiros que se declararam aptos a ler e a escreverpara os pesquisadores do IBGE, temos milhões de analfabetosfuncionais - pessoas que lêem e escrevem, mas não entendem oque lêem e não conseguem se expressar de forma a fazer comque entendam seus escritos. Ouso dizer que os analfabetosfuncionais, em nosso país, podem ser em número ainda maior.Como fazer para que esses brasileiros sejam realmenteincluídos numa sociedade que lê, escreve, entende e se fazcompreender?Acredito que o problema que assola nosso país desde osprimórdios de sua história deva ser amplamente debatido paraque possam aflorar soluções estruturais, talvez menos óbviasque incentivos em dinheiro e que se mostrem mais eficazes nofinal do processo do que as implantadas até agora.Talvez seja necessário dar o segundo passo....*José Caldini Crespo é deputado estadual pelo PFL e 2.ºsecretário da Mesa Diretora da Assembléia Legislativa de SãoPaulo