Opinião - Pelo fim dos trotes violentos


09/02/2011 17:17

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Todos os anos a mesma história se repete em diversas universidades brasileiras; alunos são expostos ao ridículo ou sofrem violência de "colegas" e tudo isso em nome de uma iniciação que eles costumam chamar de trote. Não consigo entender como jovens que tiveram a maturidade de escolher uma profissão possam agir como verdadeiros monstros para dar as boas vindas aos calouros. Além disso, como as universidades e até mesmo a sociedade pode se manter calada e não tomar qualquer tipo de ação mais efetiva?

Saiu nesta semana a lista de aprovados da Fuvest, momento festivo para os 10 mil estudante que agora irão ingressar na Universidade de São Paulo, uma das maiores universidades do país, mas esta fase também está deixando os novos alunos bem preocupados. É o que mostrou uma reportagem do Jornal da Globo de 8/2. Segundo o programa, o que tem tirado a paz desses estudantes é a preocupação com a temporada de trotes, que só está começando.

A festa será para poucos, já que só foram 10.700 aprovados entre os 133 mil que prestaram a Fuvest. Por lá eles vão encarar aquilo que é uma passagem considerada obrigatória para os calouros, e isso poderá deixar desde boas lembranças a traumas para toda a vida. E a preocupação tem muito fundamento; a USP possui um histórico de trotes violentos e a abertura de inquéritos sobre a violência nos trotes universitários ocorreu após o caso do estudante de medicina Edison Hsuen, que morreu afogado na piscina atlética da universidade, em 1999.

Mas esse tipo de situação se repete por todo o Brasil. Em Brasília, uma caloura da UNB, menor de idade, saiu de ambulância, completamente bêbada. Em Lorena, interior paulista, um aluno disse que foi obrigado a tomar vodca e cachaça. Agora, a Polícia Civil e a direção do Centro Universitário Salesiano (Unisal) estão a procura dos supostos agressores que teriam cometido trote violento contra pelo menos quatro calouros. O fato teria ocorrido em um bar próximo a instituição, lá alunos veteranos teriam obrigado os novatos a ingerir bebidas alcoólicas. O excesso de bebidas teria provocado convulsão em dois alunos, que foram parar na santa casa da região.

Após situações como essas, as universidades costumam investigar os abusos, criam comissões para promover festas saudáveis e os chamados trotes solidários. Mas porque ainda não conseguiram acabar com as humilhações que se repetem todos os anos? A violência nesses trotes já é um problema antigo para boa parte das universidades, e o que era para ser apenas uma iniciação deixa sequelas e pode levar até mesmo a morte, por isso apresentei o Projeto de Lei 77/2009, que está em tramitação na Casa e proíbe o trote estudantil aos alunos que ingressam em cursos superiores de todo o Estado de São Paulo.

A proposição determina que os dirigentes das instituições de ensino superior apliquem penalidades administrativas aos estudantes que praticarem o trote, incluindo a expulsão. Os trotes violentos continuam e é preciso acabar com isso para que o período de início das aulas seja, realmente, uma fase feliz para os alunos e também para as famílias. Em Santa Catarina o trote já é proibido. Sancionada no final de 2010 pelo então governador Leonel Pavan, a Lei 15.431, que proíbe a realização de trotes no âmbito escolar, já está em vigor e pode acarretar em multas de R$ 1 mil a R$ 20 mil para aqueles que a desrespeitarem.

Infelizmente, por aqui, ainda é necessária a aprovação do PL 77/2009 para banirmos de vez com esse tipo de violência, já que hoje, as universidades fazem ainda muito pouco pela prevenção a trotes violentos. Até quando vamos assistir calados a esse tipo de brutalidade? Não podemos esperar que cenas como essa ou até piores se repitam. Em Santa Catarina, os calouros podem finalmente festejar o ingresso na tão sonhada universidade, mas por aqui os jovens e seus familiares ainda passam por esse momento com muita angústia e apreensão. Vamos mudar essa situação de uma vez por todas.



*Gilmaci Santos é deputado estadual pelo PRB e presidente estadual do partido. Participa das comissões de Defesa dos Direitos do Consumidor e de Economia e Planejamento da Assembleia.

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