A escultura de Salazar: autêntica criação do instinto e, sobretudo, sincera

Emanuel von Lauenstein Massarani
30/10/2002 17:58

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O ferro plasmado de José Bernardo Salazar nos coloca frente às seguintes interrogações: realismo absoluto ou chamamento neoclássico? É difícil responder. Existem linhas de composição tipicamente realísticas, enquanto as dimensões conservam intacto um figurativo emblemático.

Existe nesse artista uma habilidosa criatividade, um ritmo claro que se modula, sem inflexões literárias, com um corte sempre novo da composição. Se o substrato material reúne uma série de esforços tecnicamente modernos, as estruturas se articulam e se completam numa harmônica sentença figurativa.

O classicismo do escultor, e também restaurador, deve ser procurado no seu próprio temperamento latino-americano que o leva a improvisar mais do que a meditar, com a finalidade de domar a matéria com espírito novo, seja ela bronze, ferro, alumínio ou aço inoxidável, tal qual um pesquisador metalúrgico.

Seu instinto conseguiu modelar em chave moderna sensações e vultos de ontem e de hoje, como bem se denota através da obra Mãe Negra, oferecida pelo artista ao Acervo Artístico da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.

O ferro e o fogo, elementos catalisadores da vida humana, têm em Salazar um devoto "servidor" que sabe, com inata maestria, atacar o primeiro com a força do segundo. Encontramo-nos de fronte a uma obra autêntica, verdadeira criação do instinto, forte e, sobretudo, sincera.

O Artista

José Bernardo Salazar nasceu na Costa Rica, em 1953. Bacharelado em Artes pelo Conservatório de Castella, em São José, capital de seu país, possui diversos cursos de especialização, entre os quais se destacam: restauração, remoção e reinstalação de esculturas e monumentos; fundição, restauração e conservação de obras de arte; reprodução e reeleitura de obras de arte; restauração de telhados e adornos em zinco; pátinas; e retratista.

Desenvolve seus trabalhos em bronze, zinco, aço inoxidável, latão, cobre, estanho, ferro fundido, alumínio, granitos, mármores, fibra de vidro, argamassa, cimento, materiais sintéticos, entre outros.

Entre suas obras destacam-se o Monumento a São Caetano, escultura fundida em fibra de vidro com 8 metros de altura; bustos de personalidades importantes da vida política, social e cultural: do presidente Jânio Quadros, do governador Mário Covas, do presidente Getúlio Vargas, da senhora Maria Felicidade Ferreira e em homenagem à Mãe Negra.

Restaurou o busto de Giuseppe Garibaldi e fonte em mármore, bem como todo o coreto e a Casa de Chá do Parque da Luz, em São Paulo; o coreto de São Cristóvão, no Rio de Janeiro; a escultura em bronze de João Ramalho; o Monumento ao Imigrante Italiano; escultura de Minerva e o busto do Senador Flaker, em Santo André.

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