NOSSA SEGURANÇA EM CRISE - OPINIÃO

Afanasio Jazadji*
22/11/2000 15:48

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Depois de ter anunciado planos mirabolantes, que nunca saíram do papel, o governo do Estado de São Paulo tomou duas decisões aparentemente sensatas quanto ao futuro do seu sistema penitenciário: voltou atrás na decisão de implodir o complexo do Carandiru, por falta de dinheiro, e resolveu construir 23 Centros de Detenção Provisória. Planos são planos... Por enquanto, são apenas novas promessas, que acabam se enrolando na antiga incompetência do governo estadual para combater a violência e nas constantes vascilações do ministro da Justiça, José Gregori.

Para construir esses 23 Centros de Detenção Provisória, destinados a presos à espera de julgamento, com capacidade para abrigar mais de 17 mil hoje em várias regiões do Estado, o governo paulista precisa de pelo menos R$ 300 milhões. Esse dinheiro não existe na prática e São Paulo é obrigado a acreditar na promessa do ministro Gregori de que uma verba federal será destinada para esse fim.

O presidente Fernando Henrique Cardoso fala em liberar R$ 80 milhões. O fato é que o governo tucano, que começou com tantas críticas aos seus antecessores, vai percebendo ser impossível cumprir as promessas demagógicas que fez.

No caso do complexo do Carandiru, a idéia de desativar todos aqueles prédios seria pura loucura. O mesmo que vestir um santo e desnudar outro.

O problema é que, na teoria, a prática é outra: existem muitas idéias, mas sem efeito concreto, uma vez que dependem de ações firmes e, claro, de muito dinheiro. Um governo, diante de sua própria incompetência, usa e abusa de desculpas.

Os Centros de Detenção Provisória têm por finalidade básica acabar com o problema da presença maciça de presos nas delegacias de polícia e distritos de nosso Estado. Em princípio, a idéia é ótima, uma vez que essas repartições ficam lotadas: o número de presos nesses locais aumentou de 55 mil, em 1994, para 90 mil, neste ano. Nessa situação, são constantes as rebeliões de presos, além dos ataques de quadrilhas às delegacias para resgatar bandidos detidos, o que vem apavorando os policiais, a ponto de o governo recomendar à população que não vá às delegacias...

Acontece que esses Centros de Detenção Provisória nada mais serão que galpões preparados especialmente para receber presos à espera de julgamento.

Alguns anos atrás, quando o coronel Erasmo Dias, um bem-sucedido secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo, anunciou a idéia dos galpões, houve quem o chamasse de imitador do plano nazista de organizar campos de concentração. Mas nada como o tempo: alguns dos políticos que faziam restrições ao plano de Erasmo Dias agora estão no poder e são totalmente a favor dos galpões.

Rendo aqui uma homenagem especial a Erasmo Dias, que foi meu companheiro na Assembléia Legislativa como deputado estadual e que acaba de receber uma expressiva votação no município de São Paulo para ser vereador a partir de 1.º de janeiro. Quanto aos políticos de duas verdades, aqui vai o meu profundo desprezo. Aliás, a população paulista está aprendendo a desprezar a demagogia e insiste na tese de que o governo do Estado deve deixar de lado a poesia e agir contra o crime. Afanasio Jazadji é radialista e deputado estadual pelo PFL

alesp