Os crimes no Vale do Paraíba - OPINIÃO

Afanasio Jazadji
07/12/2000 15:54

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O Vale do Paraíba, uma das regiões mais tradicionais, mais populosas e mais desenvolvidas do Estado de São Paulo, tornou-se também pólo de violência e criminalidade.

Até mesmo pequenas cidades, que apareciam nos livros de Monteiro Lobato como redutos de tranqüilidade, hoje vivem à sombra do medo: bandidos não têm fronteiras.

São José dos Campos, a maior cidade do Vale, conta com importantes indústrias, entre as quais a Embraer, que produz aviões, e a General Motors, montadora de veículos. Além disso, o município vem sendo um poderoso centro comercial e cultural. Mas surgiram problemas sociais, que influíram para o crescimento da violência.

Jacareí, um dos municípios vizinhos de São José, foi sacudido há alguns dias por um chocante recorde de homicídios em série: num só ataque, de quatro bandidos encapuzados, foram mortos dez jovens - a maior chacina ocorrida no Estado neste ano.

As vítimas tinham entre 13 e 26 anos e foram mortas com 60 tiros. Os criminosos fugiram e deixaram a certeza de que era uma guerra entre quadrilhas de traficantes, entre tantas outras que incomodam o interior paulista.

Um levantamento feito em sete cidades vizinhas de São José constatou que bandidos procedentes desse populoso município são responsáveis, em média, por 47% dos crimes cometidos naquelas localidades.

Seqüestros, roubos a bancos e assaltos à mão armada são muito bem planejados e geralmente não encontram resistência em cidades pequenas. Também existe intercâmbio entre bandidos, levando à sofisticação das operações e dos métodos de ataque às vítimas.

A troca de conhecimentos entre os bandidos se dá tanto nas cadeias e penitenciárias da região do Vale como também nos guetos controlados por traficantes de drogas, conforme verifiquei nos anos em que presidi a CPI da Assembléia Legislativa que investigou o avanço do crime organizado em nosso Estado de 1995 a 1999.

Com evidente influência até mesmo da facção Comando Vermelho, do Rio de Janeiro, e de inúmeras quadrilhas da cidade de São Paulo, o crime organizado do Vale do Paraíba criou ramificações em municípios estratégicos do eixo entre as duas metrópoles.

Em dez meses, de fevereiro a novembro, o Vale registrou 23 seqüestros, sendo 10 em São José dos Campos. Nos quatro casos de seqüestros que tiveram os valores de resgate revelados, os bandidos obtiveram um total de R$ 1 milhão. Taubaté foi local de seis crimes desse tipo, na maioria tendo empresários como seqüestrados.

Um assalto com reféns, na agência de penhores da Caixa Econômica Federal, em São José, rendeu R$ 23 milhões aos criminosos. Os bandidos estão mais ousados.

Num raio de 100 quilômetros em torno de São José, surgem novos mercados para a indústria do crime. A pacata Jambeiro, entre São José e Caraguatatuba, detém os maiores índices de ataques de bandidos de fora: cerca de 70% dos crimes registrados pelas autoridades policiais daquele município são praticados por delinqüentes de São José.

Paraibuna, Monteiro Lobato e Caçapava também são constantemente lesadas.

Nem Campos do Jordão escapa. Por ter fama de abrigar gente rica, a estância da Serra da Mantiqueira sofre com a criminalidade. A região precisa de mais policiamento.

Afanasio Jazadji é deputado estadual pelo PFL, jornalista, radialista e advogado

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