OPINIÃO: O nepotismo terceirizado do pai pródigo

Pedro Tobias*
17/03/2004 14:23

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Ainda mais surpreendente do que o fato de o primeiro ministro José Dirceu utilizar-se de sua posição para alavancar a até agora fracassada carreira política do filho, exigindo a liberação de verbas para o município onde Zeca Dirceu atua, é o tom da reprimenda dada pelo presidente Lula, que não criticou a ação em si, mas o fato de ela ter sido feita de "forma descuidada", revelando o "estilo nada discreto" do ministro.

Em outras palavras, o presidente endossa a regra dos jogos de pôquer no velho Oeste: acha que Dirceu poderia ter feito o que fez, só não podia ser pego. Para completar, Lula acha que a questão é pouco importante e que a atenção dada ao caso pela imprensa não passa de uma conspiração contra o ministro. Também compartilha da opinião de Lula justamente o ministro da Justiça, que deveria ser a reserva moral e defensor da lei e da ética, o qual atribui a repercussão do caso não à grave falha ética, mas a um "frenesi" da imprensa.

A primeira coisa a levar em consideração em toda essa questão é que não se trata de um caso isolado, apenas um ponto extremo de uma prática que já tem sido denunciada inúmeras vezes: o aparelhamento do Estado por parte do PT. Desde o início do governo, houve muitas e muitas denúncias de que o PT torra parte significativa do Orçamento como combustível para seus candidatos.

Já se comentou, por exemplo, que as inscrições para o Fome Zero no Piauí eram trocadas por filiações ao PT, que os municípios governados pelo PT são privilegiados por verbas federais, que petistas de diversos escalões interferem tanto de forma positiva como negativa para obter ou negar verbas para suas cidades e estados, enfim, uma das funções do governo tem sido a de fornecer plataformas para os candidatos petistas.

Tampouco o nepotismo - emprego de parentes - é algo novo no PT. Por sinal já gerou muitas crises após as eleições municipais de 2000, quando as prefeituras petistas encheram-se de parentes e contraparentes de prefeitos e secretários. Mas as polêmica do nepotismo, assim como as que marcaram as nomeações do governo Lula, foram logo esquecidas.

O que ocorreu agora com o caso do Pai Pródigo foi simplesmente um desenvolvimento do desvio anterior, no qual as relações partidárias são reforçadas pelas relações familiares, já consagradas pela prática constante de nepotismo nos governos petistas. José Dirceu descobriu um jeito de terceirizar o nepotismo, esforçando-se para dar ao filho a chance de eleger-se prefeito.

Há algumas questões em relação a isto que não podem ser desprezadas. Uma delas é que a atitude de Dirceu demonstra o pouco apreço dele às instituições e à representação política. Um pedido do filho tem mais valor do que à vontade da população, expressa através de seus representantes eleitos.

O fato de a população do Paraná ter se recusado dar este poder de representação a Zeca Dirceu nada diz ao pai do garoto ambicioso que, por sinal, sequer conseguiu ser vereador da cidade. Esta substituição das relações políticas legítimas e institucionais pelo tráfico de influência, baseado em relações familiares, é um gravíssimo atentado contra a ética política, não um pecadilho, fruto do descuido, como o governo tenta passar à opinião pública, mas sim um caso escandaloso de tráfico de influência.

*Pedro Tobias é deputado estadual e membro das Comissões de Educação, de Saúde e Higiene e de Promoção Social da Assembléia Legislativa de São Paulo e vice-presidente do Diretório Estadual do PSDB

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