Agora, a força nacional

OPINIÃO - Afanasio Jazadji*
30/05/2003 15:01

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Está fermentando nos laboratórios do Ministério da Justiça mais uma novidade na área da segurança pública: a Força Nacional. Seria um novo factóide? A referida força, anunciada pelo ministro Márcio Thomaz Bastos, atuaria, de forma experimental, no Rio de Janeiro. E, no meu modesto entender, já chegou dando botinadas.

Explico: a informação dá conta de que a Força Nacional começará a funcionar em setembro, na tentativa de proteger os aterrorizados cidadãos cariocas. Para tanto, já estaria recrutando 25 policiais federais e outros "25 profissionais das polícias Civil e Militar considerados confiáveis e bem treinados". Isso mesmo?!

A esta altura, os policiais do Rio devem estar cabreiros dentro de suas roupas, e a população, mais assustada do que nunca. Onde já se viu "técnicos" do Ministério da Justiça condenarem à desconfiança dos moradores do Rio todo o seu efetivo policial - o civil e o militar - a partir do momento em que consagra apenas 25 deles como elementos dignos de defender o Estado inteiro dos marginais de toda ordem?

Pixotada... e das maiores! Não parece coisa de gente séria. Fala-se na criação dessa Força Nacional com poderes nunca destinados às polícias do País. De acordo com os planos, seria um verdadeiro FBI, aquela competente polícia federal de investigações dos Estados Unidos. Mas, pelo jeito, aqui no Brasil, tudo não passará de mera intenção. E, no caso, de gente altamente despreparada e desrespeitosa, acima de tudo. Pelo que se vê, o governo Lula repete, na área de segurança pública, as trapalhadas ocorridas nas gestões de oito ministros da Justiça do governo Fernando Henrique Cardoso.

Como pode o Ministério da Justiça querer dar em cima do crime, devolver a tranqüilidade à população, se já começa de forma equivocada, preconceituosa? Para esse novo grupo "de elite" a ser criado, pensa-se em adquirir equipamentos sofisticados, caríssimos. Haverá microcâmeras e uso de imagens geradas por satélites. Além disso, de acordo com os planos, policiais utilizarão aviões não-tripulados para reconhecimento e obtenção de mais detalhes sobre o campo.

Fala-se em manter a Força Nacional em operação por, pelo menos, três anos, combinando com o fim do período do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para os tais técnicos, "é tudo uma questão de método". O que vem a ser isso? Acredito que eles nem saibam. "Questão de método"... Ora...

Uma vez que não há dinheiro no Orçamento nem para várias finalidades tidas como prioritárias, faltaria mesmo verba para manter uma estrutura desse porte. A solução, no entanto, é anunciada: a criação de uma taxa, mais um tributo no País dos impostos.

Desta vez, o mercado de segurança privada seria taxado em 1%, para financiar e manter os ambiciosos planos de colocar nas ruas, para o combate especialmente ao crime organizado, essa super-polícia, a novíssima Força Nacional.

Quanto à valorização do policial, seja ele civil ou militar, ou federal, seja no Estado do Rio ou em qualquer outro Estado, nem se abordou. E eu insisto na minha velha tese: de nada vale sofisticar a polícia se o elemento humano continua de barriga vazia, de botina furada, tendo de recorrer ao bico para sobreviver.

*Afanasio Jazadji é radialista, advogado e deputado estadual pelo PFL

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