Os pequenos são grandes negócios

OPINIÃO - Duarte Nogueira*
26/11/2002 19:14

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As micro-empresas são responsáveis pela geração de 60% dos postos de trabalho no Brasil, um forte indício de que nelas está boa parte da solução para o desemprego. Num mercado globalizado e competitivo, as grandes empresas convivem com quadros enxutos, formados na maioria por mão-de-obra altamente qualificada e investimentos cada vez maiores em tecnologia. Já as micro-empresas atendem a clientela localizada; geralmente empregam parentes, vizinhos e amigos e são mais resistentes às turbulências do mercado. De acordo com o Sebrae, os dados mais recentes indicam que, em 1999, das 475 mil empresas constituídas no país, 267 mil eram micro-empresas, ou seja, 56,32% do total de empreendimentos gerados naquele ano. A região sudeste é a que concentra maior número de micro-empresas.

No entanto, montar o próprio negócio já traz, de cara, dois obstáculos: a busca do capital inicial e a qualificação da mão-de-obra. E nesses dois itens, o governo do Estado tem programas importantes. Um deles é o Banco do Povo Paulista, que oferece empréstimos de R$ 200 a R$ 5.000, com juros de 1% ao mês, uma boa alternativa aos juros de 22% ao ano praticados no mercado.

O Banco do Povo Paulista funciona em 260 cidades do Estado e, nos últimos quatro anos, distribuiu R$ 63,7 milhões em 27 mil contratos. Segundo estimativas da Secretaria de Emprego e Relações do Trabalho, cada contrato gera de dois a três empregos, geralmente familiares, vizinhos ou amigos. A partir de dezembro, a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social liberará financiamentos para projetos de geração de renda por meio da Agência de Desenvolvimento Social. O objetivo da agência é facilitar a implantação de projetos de produção de bens e serviços para gerar renda a organizações comunitárias e entidades sociais. As organizações receberão até R$ 30 mil, com carência de 24 meses e juros subsidiados.

Os recursos obtidos por meio da agência poderão ser utilizados para a compra de equipamentos, reformas na estrutura física e custeio do projeto. Uma das entidades que já tiveram o crédito autorizado é o Instituto das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, de Bauru, que desenvolve o projeto de confecção de roupas de cama, mesa e banho.

Os programas de qualificação de mão-de-obra também têm dado resultados positivos: de setembro a outubro 1.275 pessoas receberam certificados de conclusão de cursos e 62 novos empreendimentos foram formados. Durante três meses, os alunos passam por aulas práticas e teóricas com professores da própria comunidade. Saem capacitados para montar o seu próprio negócio e gerar emprego e renda. De acordo com dados acumulados nos últimos quatro anos, 27 mil pessoas foram qualificadas e desse grupo surgiram 937 micro-empresas.

Em meio às crises no mercado de trabalho, a função do Estado é oferecer janelas para a geração de emprego e renda. E São Paulo tem tido resultados importantes: investir nos pequenos já demonstrou ser um grande negócio.



*Engenheiro agrônomo, 38, líder do governo na Assembléia Legislativa. Foi secretário de Estado da Habitação no governo Covas (95/96)

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