OPINIÃO: Violência limita a vida

*Afanasio Jazadji
10/01/2005 17:41

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Aqui estão boas notícias para 2005: desde 2003 a expectativa de vida dos brasileiros em relação aos anos anteriores continuou crescendo, desta vez para 71 anos e 4 meses, e o índice de mortalidade infantil caiu 8,6% em apenas três anos. Mas há também uma notícia negativa, que serve de advertência para as autoridades do País: os brasileiros poderiam viver muito mais, caso não fossem vítimas de um número absurdo de assassinatos e de acidentes de trânsito.

No Brasil, a proporção de mortes violentas, a cada ano, supera o índice registrado em países ricos, como França, Inglaterra, Itália, Suécia, Noruega, Estados Unidos, Canadá e Japão, e até o da maioria dos países latino-americanos, como Argentina, Chile, Uruguai, México e Costa Rica.

Os números são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), órgão do governo federal encarregado das pesquisas oficiais. Comparado com dados de outras 191 nações da ONU, esse balanço oscila do 88º lugar para o 86º: em 2003, os brasileiros, ao nascer, tinham expectativa de vida de 71 anos e 4 meses, em média, uma evolução de 4 meses (um terço de ano) em relação ao ano anterior. Mulheres têm expectativa mais alta, de 75 anos e 3 meses, enquanto os homens ficam limitados a 67 anos e 7 meses.

O coordenador da pesquisa do IBGE, Juarez de Castro Oliveira, foi bastante claro em suas explicações: "As mortes violentas impedem que o Brasil dê um salto maior." E o que dizem as autoridades brasileiras? Nada!

Nos últimos anos, os casos de mortes violentas de mulheres, em assassinatos e acidentes têm aumentado no Brasil. Entretanto, as maiores vítimas do envolvimento nesse tipo de morte são os homens. Um rapaz de 25 anos tem 3,79 vezes mais risco de morrer que uma moça da mesma idade. O curioso é que no Japão, país que viveu duras guerras na primeira metade do século XX, há uma expectativa de vida de 81 anos e 7 meses, algo que o Brasil poderá atingir somente por volta de 2050.

Acontece que os japoneses reagiram economicamente, reconstruíram sua sociedade e souberam lutar contra o crime: lá existe pena de morte, por exemplo. Além disso, as punições contra os infratores das leis do trânsito são bastante rigorosas. Com isso, Tóquio tem menos mortes no trânsito do que São Paulo, cidade do mesmo porte.

Na contramão de notícias ufanistas do governo brasileiro sobre a possível redução do número de assassinatos após a aplicação do Estatuto do Desarmamento, que tirou armas de cidadãos de bem, preocupados em se defender de bandidos, a pesquisa do IBGE confirma algo que venho dizendo há mais de 30 anos como especialista em questões de segurança pública, sendo que nos últimos 18 anos como deputado estadual: o alto índice de violência contribui para reduzir a qualidade de vida e a longevidade de nossa população. Agora, a obrigação dos governos federal e estadual é trabalhar de modo mais concreto contra a criminalidade. Menos poesia, menos demagogia. E mais ação!

alesp