Opinião - É preciso restaurar o sistema ferroviário


05/05/2010 16:17

Compartilhar:


O sistema de transportes no Brasil há anos vem privilegiando as rodovias em detrimento das ferrovias. O desmonte do sistema ferroviário foi uma ação contra os interesses nacionais, contraproducente e antieconômica. O transporte da produção agrícola e de produtos minerais tornou-se oneroso, após a crescente utilização de caminhões. Sem contar o estado precário das estradas brasileiras, esburacadas e palco de muitos acidentes, situação agravada quando chega a época das chuvas.

O Brasil já contou com mais de 34,2 mil quilômetros de ferrovias, distribuídos em 26 Estados e no Distrito Federal. Havia necessidade de boa vontade política, planejamento e, principalmente, mais investimentos para ampliar a malha ferroviária. Em vez disso, o que se notou foi um verdadeiro descaso das autoridades governamentais que acabaram sucateando todo o sistema. O que se vê hoje, em alguns polos regionais como Campinas e Bauru, são "cemitérios" de locomotivas e vagões e estações "fantasmas". A malha ferroviária atualmente está reduzida a pouco mais de 29 mil quilômetros.

A utilização da ferrovia para o transporte de carga e de passageiros é a mais econômica, mais rápida e menos poluente, já que as composições são movidas a energia elétrica. O Brasil, nesse caso, atuou na contramão de países desenvolvidos, que adotaram a ferrovia como principal meio de transporte de carga e de passageiros, especialmente na Europa e nos Estados Unidos. O trem está para o país praticamente na mesma proporção que o Metrô está para as grandes cidades. Só se fala em transporte sobre trilhos para solucionar o problema da falta de condução pública nas metrópoles brasileiras.

Defendo a criação de linhas férreas de grande distância, com poucas paradas, para serem utilizadas para transporte de carga e de passageiros, com integração regional realizada por ônibus intermunicipais. No caso de São Paulo, por exemplo, poderia ser implantada uma ferrovia da Capital até Presidente Prudente, com três paradas, para transportar passageiros. A mesma linha seria também usada para levar e trazer mercadorias. Só para ficar numa simulação.

Ainda há tempo. Há cerca de dois anos, as autoridades federais vem falando na criação do chamado trem-bala, ligando Campinas, Cumbica e Rio de Janeiro, com poucas paradas, o que não deixa de ser um avanço. Mas ainda não saiu do papel. Fala-se ainda no começo da recuperação do sistema ferroviário e, ao menos, de reduzir o desperdício. É o que tem que ser feito e com rapidez e muito investimento. É preciso fazer obras que resolvam a questão, não obras que resultem em votos. As autoridades têm que acordar para esse problema.



*Vitor Sapienza é economista, agente fiscal de rendas aposentado e deputado estadual (PPS).

alesp