Que lugar o surrealismo ocupa, ainda, na arte de nossos dias? Inúmeros críticos já proclamaram o fim de seu reinado. Será realidade? Aqui e acolá aparecem pintores que, desejosos de uma renovação interior, se voltam para o surrealismo. Se considerarmos que a contestação individual ou anarquista constitui uma constante do surrealismo, a pintura latino americana se mostrou particularmente sensível a esse estilo. O chileno Matta, o cubano Wilfredo Lam, o mexicano Tamayo, sem esquecermos dos surrealistas abstratos como Camacho e Toledo, são alguns nomes que nos vêm à mente.No Brasil do novo milênio encontramo-nos, hoje, frente a um pintor de qualidade e de grande criatividade. A síntese do discurso de Claudio Souza Pinto está centrada sobre o sufoco a que o ser humano é submetido em cada momento do insano pulsar da grande cidade, sobretudo sobre a vida nas áreas metropolitanas, com seu condicionamento social e mental.O artista penetra numa decomposição da figura, sugere e teoriza entre memória e realidade. Frente a suas obras somos levados a refletir, pois o seu discurso pictórico é dirigido ao homem de hoje, esmagado pelo seu próprio operar progressivo. Seu itinerário passa através de imagens simuladas, colhidas com um analogismo quase plástico, que dificilmente se inclina frente a momentos efêmeros de uma dialética gratuita.Claudio Souza Pinto parte de um conceito de pintura entendido primariamente como sensação espiritual. A pesquisa da intensidade cromática, a impostação dos planos reconstituem as sugestões verídicas através da sensibilidade. Vultos e cenas hilariantes tomam corpo e parecem voar no espaço, quase numa dança voluptuosa, desejosos de sensibilizar o espectador e envolvendo-o num discurso que não sabemos se defini-lo de mais atual ou mais inquietante.Uma conjunção de intimidade poética e de psicanálise percorre suas telas numa espécie de processo da razão que alimenta ilusões irrealizáveis e abstratas em direção do concretum do que se costuma chamar a condição existencial do homem. Em algumas de suas obras constatamos como a própria sociedade humana vive na incomunicabilidade e os indivíduos são sós e abandonados ao seu próprio destino, expostos às combinações as mais hostis das infinitas ¨vontades do poder¨ em concorrência entre si. Como podemos constatar na obra ¨Por baixo do pano¨, oferecida ao Acervo Artístico da Assembléia Legislativa, são múltiplas as potencialidades da imaginação evocativa e simbolista de Claudio Souza Pinto, que reevoca o mistério com magnetismo e fascínio, graças às suas excelentes faculdades criativas, onde o artista obtêm efeitos extrasensoriais eficazmente expressos em uma linguagem quase esotérica.O ArtistaClaudio Souza Pinto, nome artístico de Claudio Luiz de Souza Pinto, nasceu em São Paulo no ano de 1954. Pintor, designer, escultor em pedra e madeira, fotógrafo, ceramista, maquetista e ilustrador, formou-se em desenho industrial pela Universidade Mackenzie. Após exercer inúmeras atividades profissionais na área de criação e direção de arte em importantes empresas, desde 1992 tem se dedicado exclusivamente a carreira de artista plástico quando, durante sete anos se radicou em Paris.Participou de inúmeras exposições individuais e coletivas, destacando-se entre elas: Ópera Garnier de Paris (1992/1993); Les Bains, Paris (1992,1993,1995,1996); Doobiés, Paris (1995); Galeria Espaço Mirante, SP (1997); Salão de Outono no Espaço Branly - Eifel, Paris (1997); Espaço Cultural da CEF em Brasília (1998); Banco Francês Brasileiro, Alphaville, SP (1998); Conjunto Cultural da CEF Rio de Janeiro (1999), Centro de Convivência 2000, Campinas -SP; Conjunto Cultural da CEF de Salvador - BA; Espaço Cultural Bayer SP (2000); Casa da Fazenda do Morumbi; Conjunto Cultural da CEF São Paulo e Chapell Art Show (2001/2002 e 2003); 32º Festival de Inverno de Campos do Jordão ; 9º Festival de Artes em Itú, Conjunto Cultural da CEF em Curitiba, Atrium Cultural São Paulo.