OPINIÃO: A violência oculta do trabalho

Arnaldo Jardim*
10/03/2004 16:49

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O tema do Dia Internacional da Mulher este ano é a violência. A violência possui diversas facetas, mas gostaria de me concentrar em uma delas, tendo em vista o crescente papel da mulher no mercado de trabalho. Essa preocupação se apoia no resultado de uma recente pesquisa divulgada pela Seade - Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados sobre o mercado de trabalho feminino na região metropolitana de São Paulo.

O rendimento médio por hora trabalhada das mulheres manteve-se em decréscimo pelo sexto ano consecutivo, passando a R$ 4,30 em 2003. Esse valor corresponde a 78,6% daquele recebido pelos homens, R$ 5,47, o que acabou por interromper a tendência de aproximação desses valores observada nos anos anteriores. Apesar das reduções de rendimento terem ocorrido para a maioria dos segmentos populacionais analisados, principalmente por conta do quadro recessivo da economia brasileira, esta queda foi mais acentuada para as mulheres, ao ficar no patamar de 5,1%, enquanto para os homens foi de 2,9%. O quadro é ainda pior se levarmos em conta a situação das mulheres negras, que viram seus rendimentos despencar na ordem de 7,2%.

No entanto, a participação das mulheres, tanto na renda familiar como no mercado de trabalho, aumentou principalmente em virtude do crescimento de setores como o de comércio e serviços. As mulheres representam hoje 55,1% dos trabalhadores da região metropolitana de São Paulo, o maior patamar desde 1985. Essa trajetória de crescimento vem se mantendo, desde 1995, no patamar de 1,3% ao ano. Em 2002, elas representavam 54,4% da força de trabalho na capital paulista.

As mulheres vêm conquistando o seu espaço a cada ano, com sua capacidade de liderança, muita versatilidade, criatividade e solidariedade. Têm superado as barreiras impostas pela sociedade - e não foram poucas - em busca do reconhecimento mais do que merecido, à procura de seu lugar ao sol.

É evidente, porém, que na crise a mulher é quem primeiro "paga o pato", quer seja vendo seu salário deprimido, e aí a lógica do "despede e contrata" funciona inexoravelmente, ou pelo fato de ser "descartada" em primeiro lugar. Uma situação que se repete principalmente nos grandes centros urbanos como São Paulo.

Garantir a equidade de tratamento no mercado de trabalho é uma luta de todos nós e, quero crer, uma questão de tempo. Mas o tempo urge e corrigir distorções desse tipo precisa ser a meta de qualquer cidadão, em especial do poder público e dos legisladores. Há de se preparar novos tempos, nos quais as oportunidades sejam democratizadas para que o brasileiro não tenha a vergonha de viver numa das sociedades mais desiguais e injustas do planeta.

Comemoro o fato de ter sido aprovado projeto de minha iniciativa, agora lei, que instituiu a Carteira de Prevenção do Câncer Ginecológico e Mamário. Tenho lutado para que seja realmente implementado, no orçamento estadual deste ano, a partir de emenda também de minha autoria, há disponibilidade de recursos para termos, finalmente, a Carteira de Saúde da Mulher.

É por estar diante de tantas injustiças e também de uma luta cada vez mais vitoriosa que não podemos esquecer de homenagear com carinho especial todas as mulheres que, com galhardia, enfrentam sua dupla jornada de trabalho. Que continuem nos iluminando com sua serenidade, tenacidade e profissionalismo. Parabéns!

* Arnaldo Jardim é deputado estadual

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