Plenas de uma autônoma espontaneidade as "naturezas mortas" de Antunes

Emanuel von Lauenstein Massarani
14/11/2002 17:59

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A arte de Antunes opõe à realidade a sua própria visão. Nas suas naturezas mortas, nos seus "bouquets" ele conjuga dadivas exteriores e as confronta com seu julgamento e sua experiência, e por mais vibrantes que sejam as impressões recebidas, ele não se deixa dominar por elas.

A elegância das linhas convergentes e divergentes numa síntese toda arquitetural - a própria composição sugere o espaço - estilização das folhagens e das flores, o significado das proporções, levam ao esquecimento um certo "partis-pris" decorativo.

Mestre de diversas técnicas - óleo, guache, têmpera, litografia - Antunes o é também da cor, que ele habilmente manobra dentro de uma gama de tons tanto distendida quanto contraída.

Como bem afirma o crítico de arte Dominique Baechler: "Impregnadas talvez de um certo cubismo pela sua construção, sua necessidade de ordem e de clareza, as obras de Antunes afastam-se de toda aventura coletiva, plenas de uma autônoma espontaneidade". Assim é a litografia "Hortência XIX", doada pelo Atelier Glatt & Ymagos ao Acervo Artístico do Palácio 9 de Julho.

A luz, levantando-se das sombras, cria a dinâmica do tema, animando as estruturas menos sugestivas do fundo: nada é estático nas suas "naturezas mortas". Algumas manchas mais vivas trazem como estímulos de excitação o rosa alternando-se com o verde, o azul turquesa alegrando os ocres e os sépias. Os cinzas e os brancos, mais sutis, trazem um certo gosto do enigma e do secreto. Sugerir e não dizer... recomendava Mallarmé.

O Artista

Antonio Augusto Antunes Netto nasceu em Bebedouro, interior de São Paulo, no ano de 1936. Mudou-se para Londrina, Paraná, onde terminou seus primeiros estudos de desenho, em 1946. O artista escolheu como profissão a arquitetura, já em São Paulo (1954).

Na faculdade participou de várias exposições, atraindo a atenção pela maneira pessoal de utilizar os claros e os escuros. Participou como desenhista do Salão de Jovens do Ministério de Educação do Rio de Janeiro, do XIII Salão Paulista de Moderna, de exposições coletivas no Instituto dos Arquitetos do Brasil, além de exposições individuais em São Paulo. Diplomou-se em arquitetura em 1961, pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo, assumindo o cargo de professor assistente da Cadeira de Paisagismo, até 1973. Freqüentou vários cursos de arte, gravura e desenho, além de realizar um vasto trabalho no campo de paisagismo. Pouco a pouco, Antunes foi-se desligando da arquitetura e passou a se dedicar exclusivamente à pintura.

Antunes realizou várias exposições coletivas e individuais, dentre as quais: Galeria Círculo, Salvador (1973); "Mostra Individual" - Galeria Itaú (1974 e 1975); 7º Salão de Ecologia, São Paulo; Museu do Estado da Bahia (1975); Galeria André, São Paulo; Galeria Paulo Prado, São Paulo; CCBEU de Santos; IV Salão Paulista de Arte Contemporânea (1976); Galeria Debret, Paris, França; Galeria Brasil, Haia, Brasil; IX Festival Internacional da Pintura em Cagnes-Sur-Mer, França (1977); Galeria André, São Paulo (1979); Galeria Paulo Prado, São Paulo (1980); entre outras.

Tem obras em importantes acervos oficiais e particulares tanto no Brasil - Galerias do Rio, São Paulo, Salvador e Brasília - quanto no exterior: embaixadas do Brasil em Haia, Geneve e Paris (França); Londres (Inglaterra); e São Francisco (Estados Unidos).

alesp