Super Zé

Opinião
09/05/2005 17:29

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O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu (PT), é tido como um superministro, alguém dotado de tantas e tamanhas qualidades que é capaz de dar conta de toda e qualquer tarefa que lhe seja delegada pelo presidente da República ou que ele mesmo se atribua. Não por acaso, divide com Antonio Palocci, companheiro de partido e ministério, as melhores e maiores atenções de Luiz Inácio Lula da Silva. O problema é que as coisas nem sempre são o que aparentam ser. Os múltiplos talentos de José Dirceu, a se julgar pelo seu desempenho em algumas áreas, se encaixam na categoria "efeitos especiais", pois produzem muito calor e pouca luz.

No início do governo, sua principal função era cuidar da articulação política. E, para tanto, contava com os préstimos do amigo e assessor Waldomiro Diniz. Este, como se sabe, caiu em desgraça, como costumam cair em desgraça todos os que cultivam o péssimo hábito de achacar, em benefício próprio ou de outrem, quem lida com dinheiro graúdo. O escândalo levou o presidente a alterar as funções da Casa Civil e arrumar uma ocupação para Dirceu, alçado agora à condição de o homem que cuidaria da parte administrativa, que trataria de fazer com que projetos ganhassem vida e trouxessem benefícios aos cidadãos.

Desnecessário lembrar que, nesse campo, o desempenho do superministro foi pífio " para dizer mínimo. A exemplo do chefe, Dirceu não sabe nem gosta de administrar. Deve crer que essa é tarefa menor. Por isso, dedicou boa parte de seu tempo tentando minar o ministro Aldo Rebelo (PCdoB), em tese, o responsável pela articulação política. Hoje, sabe-se que a Casa Civil transformou-se, por inércia do superministro, numa espécie de cemitério das ilusões. Os projetos que ali entram ficam, esperando Godot.

Agora, uma das principais atribuições do superministro parece ser a de posar de, para usar expressão corrente, "embaixador itinerante" do governo Lula. Até agora, não há indícios de que terá grande sucesso na nova função. Segundo nos informaram os jornais, o companheiro Hugo Chavez, da "democrática" Venezuela, deu um chega pra lá nos palpites do ministro multiuso. A bem da verdade, registre-se que, ao menos por enquanto, não há notícias de que Fidel Castro se irrite com as lágrimas derramadas por Dirceu sempre que se encontram na Ilha.

Como a hipótese de Waldomiro Diniz voltar à cena está descartada, pelo menos é que se supõe, é provável que o grande último trabalho a ser confiado a José Dirceu seja mesmo o de atuar em tempo integral para a reeleição de Lula. Que o presidente ponha as barbas de molho.

Milton Flávio é médico, professor de Urologia da Unesp e deputado estadual pelo PSDB-SP

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