Os jovens que sofrem com a violência

OPINIÃO - Afanasio Jazadji*
21/11/2002 14:28

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Nos últimos cinco anos, mais de 3.500 jovens foram assassinados

na cidade de São Paulo. Pelo menos mais 2.000 jovens morreram em

condições idênticas em cidades do Interior e do Litoral do Estado.

Prestem atenção para o número de vítimas: mais de 5.000, o suficiente

para lotar as arquibancadas de um grande ginásio de esportes. É uma

enorme tragédia, cuja ampliação pode e deve ser combatida por todos os

setores da sociedade.

De acordo com uma pesquisa do Departamento de Homicídios e

Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil de São Paulo, os jovens

assassinados nesses cinco anos eram, na maioria, garotos pobres, filhos

de famílias desestruturadas, moradores da periferia. Quase sempre, são

mortos a tiros no período da noite ou de madrugada, quando a metrópole

fica mais perigosa. Os locais dos crimes são geralmente favelas ou bares

dominados pelo tráfico de drogas. No entanto, segundo o estudo do DHPP,

existe uma surpresa: o principal motivo dos homicídios não é o tráfico de

drogas, apesar de muitos menores de idade terem ficado envolvidos com

essa atividade que acaba com tantas vidas.

De acordo com o delegado Paulo de Tarso Roggiero, que é titular

de uma das duas primeiras delegacias especializadas no esclarecimento de

homicídios de crianças e jovens, os garotos estão sujeitos a morrer por

causa de uma discussão banal: sobre futebol, por exemplo, ou sobre uma

anedota ofensiva. A partir de uma simples discussão em torno de assunto

fútil, surge a briga e, com isso, alguém puxa uma arma e tudo acaba em

mais uma tragédia. O delegado Roggiero é responsável por casos da Zona

Sul, enquanto o delegado Pedro Buk Forli fica com ocorrências de outras

áreas da Capital.

As investigações da polícia são feitas com grandes

dificuldades. Todos os meses, cada uma das delegacias abre 40 novos

inquéritos. Nos bairros onde os assassinatos são comuns, os

investigadores precisam vencer a lei do silêncio. Muitas vezes, as

testemunhas têm de ser protegidas pelo anonimato. E a busca por

informações precisa ser rápida, pois algumas vítimas são migrantes do

Nordeste e suas famílias costumam voltar para a terra natal após o crime.

Em 1995, um estudo da Secretaria da Saúde alertava para os altos índices

de mortalidade de jovens por causas externas, especialmente execuções e

acidentes de trânsito. Na época, os homicídios já apareciam como a

principal causa de mortes de meninos. No caso de garotas, os acidentes

matavam mais. Nos últimos anos, as mortes por atropelamento ou batidas de

carro diminuíram, mas os assassinatos ficaram mais freqüentes. O órgão

responsável pela estatística registrou uma pequena queda só em 2001:

nesse ano, foram mortos 847 menores da Capital, número inferior aos 864

do ano 2000.

Para a polícia, é assustador o número de assassinatos de jovens

da classe média. O delegado Roggiero explica que o adolescente é

impulsivo e mata por causa de mulheres.

Deve ser levado em consideração que, tanto na Capital quanto no

Litoral e no Interior do Estado de São Paulo, os menores de idade surgem

não apenas como vítimas, mas também como criminosos. Ou seja: os

adolescentes matam e são mortos, se dizimam numa imensa tragédia que tem

muito a ver com os problemas sociais e com a desagregação familiar. É

algo em que devem pensar os novos governos. É também algo em que devem

pensar os setores de uma sociedade que adquiriu vícios e insiste em seus

erros.

Afanasio Jazadji é radialista, advogado e deputado estadual pelo PFL

alesp