Opinião - Os nossos verdadeiros mascotes


02/06/2010 17:00

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Já parou para pensar em quantas espécies de animais ou plantas brasileiras você conhece? Refleti sobre esta pergunta após ver estampado na capa de um dos maiores veículos de comunicação do Brasil a foto do que eles chamaram de "o gafanhoto da copa". A imagem do gafanhoto, de cores deslumbrantes que nos remete as da bandeira brasileira, cujo nome científico é Chromacris speciosa, chegou a levantar dúvidas sobre a sua real existência, já que estamos em plena preparação para a Copa do Mundo.

O gafanhoto foi encontrado na Fazenda Experimental da Cantareira pelo engenheiro agrônomo e professor universitário Marcos Victorino, que também fotografou o inseto, após 20 anos de buscas. Mas a espécie é uma gota em meio à imensidão de outras que compõem a nossa flora e fauna. Mas por que então boa parte das pessoas não conhece nem metade das espécies já catalogadas?

Sabemos que muitas espécies vegetais e animais já desapareceram da Terra e que outras tantas estão ameaçadas. As causas da extinção dessas espécies são as mais diversas: falta de alimento, mudanças no habitat natural e, principalmente, a ação destruidora do homem. No Brasil, cresce o número de animais silvestres e aquáticos mortos ou capturados. Mas só poderemos preservar as nossas espécies, se nos conscientizarmos da real importância e imensidão da fauna e flora de nossa nação.

A biodiversidade brasileira é a maior do mundo, mas também é a mais desconhecida. A estimativa é de que o total de espécies existentes no mundo varia entre 3 e 100 milhões, sendo que apenas 1,5 milhão, das quais 10% ou 20% são encontradas aqui. Mas acredita-se que deva haver mais de 3 milhões de espécies ainda desconhecidas. Hoje, ninguém sabe exatamente quanto vale a biodiversidade brasileira, no entanto sabemos que se trata de um valor inestimável. Nosso país desfruta de uma posição privilegiada no quesito de recursos naturais, e essa capacitada vem sendo explorada na busca por novas tecnologias, tanto na forma de medicamentos quanto na de cosméticos. Entretanto, os estrangeiros têm aproveitado esse potencial bem mais do que nós.

Infelizmente, a pesquisa nacional ainda não está voltada para esse tipo de exploração e muitos estrangeiros vendo essa carência tem patenteado produtos naturalmente brasileiros. A falta de fiscalização e controle de espécies nativas abre as portas para a biopirataria e dá ao Brasil um prejuízo diário de mais de U$$ 16 milhões, segundo cálculos aferidos em 2006 pelo IBAMA.

Boa parte de nossas espécies vegetais interessam particularmente as indústrias farmacêuticas. Para se ter uma ideia, há muitos anos um pesquisador brasileiro descobriu que no veneno da jararaca havia uma substância que poderia controlar a hipertensão, mas um dos maiores laboratórios estrangeiros financiou a pesquisa e registrou o princípio ativo contra a pressão alta. Assim também foi com o Cupuaçu e o sapo que vive nas árvores da Amazônia e possui uma toxina analgésica, esses e tantos outros tiveram seus princípios patenteados. Na Suécia, um fóssil raro de uma planta de 130 milhões de anos foi anunciado, mas não revelaram que ele foi levado ilegalmente da Chapada do Araripe, no Ceará.

À semelhança do que ocorreu há séculos atrás, quando os portugueses surrupiaram dos índios o pau-brasil, deixando poucos exemplares da árvore para contar história, nossas espécies estão sendo raptadas e ameaçadas. Essa situação só mudará quando abrirmos os nossos olhos para o que está perto de nós. Precisamos defender a nossa fauna e flora, já que elas são fundamentais para o equilíbrio de nosso ecossistema. Só assim poderemos conservar o nosso mais novo mascote e tantos outros que ainda serão descobertos.



*Gilmaci Santos é deputado estadual pelo PRB e presidente estadual do partido, também participa das comissões de Defesa dos Direitos do Consumidor e de Economia e Planejamento.

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