HORA DA VERDADE - OPINIÃO

Milton Flávio*
03/01/2002 18:40

Compartilhar:


Ninguém, a não ser que seja movido por absoluta mesquinharia política ou por má-fé, pode torcer pelo fracasso de um governo, seja ele municipal, estadual ou federal. Afinal, quem paga a conta do insucesso é sempre a sociedade, ainda que o ônus não seja dividido de forma igualitária entre todos os cidadãos. Os mais pobres sempre são os mais sacrificados. O que só reforça a convicção de que aos partidos e agentes políticos não resta outra alternativa a não ser a de se mostrarem mais criativos e competentes que os adversários.

Quem critica e faz oposição a um determinado governo tem a obrigação de apresentar à sociedade alternativas melhores para a solução dos problemas e, mais do que isso, de não mudar o discurso quando chega ao poder. Do contrário, faz-se a crítica pela crítica, reforçando a idéia - falsa, mas amplamente disseminada - de que todos os políticos são igualmente ruins e mentirosos. E isso só serve para apequenar o jogo democrático, semear desconfianças e alimentar o niilismo que nada constrói.

Ninguém em sã consciência poderia esperar que a prefeita Marta Suplicy (PT) realizasse um excelente governo em 2001. Como todos sabemos, ela herdou uma Prefeitura com toda a sorte de problemas. Acrescente-se a isso o fato de que o governante recém-empossado precisa de um tempo para dominar a máquina, aprovar projetos de sua autoria e rever as prioridades fixadas no orçamento pelo seu antecessor.

O que causa espécie, no entanto, é o fato de que, ao assumir o governo, a prefeita paulistana tratou de renegar uma série de compromissos firmados durante a campanha eleitoral. De início, criou quase mil novos cargos de confiança, concedeu aumentos generosos aos seus ocupantes, investiu em educação menos do que obriga a legislação, tratou de incluir as despesas com professores aposentados na conta do ensino, firmou uma série de contratos de emergência (sem concorrência pública, portanto), patrocinou ao alto escalão uma série de viagens ao exterior, descuidou da fiscalização de serviços básicos, como o de varrição de logradouros públicos, para ficarmos apenas num exemplo.

É lícito imaginar que todos esses fatores, associados a um misto de arrogância e inexperiência gerencial, contribuíram para que Marta Suplicy fosse apontada, em pesquisa recente, como o pior dos prefeitos de nove capitais. Levantamento também divulgado pelo Datafolha, no início do ano, mostra que o percentual de cidadãos que reprovam os serviços prestados pela Prefeitura paulistana cresceu, quando comparado à idêntica pesquisa realizada em agosto do ano passado.

Nesse segundo ano de mandato, é de se esperar que a atual administração deixe de lado o queixume que a tem caracterizado e passe a governar de forma convincente. Afinal, ela conseguiu aprovar, no fim do ano passado, aumento de impostos e manter em 12% o índice de remanejamento de verbas, além da diminuição com os gastos na área da educação. O tempo de desculpas, portanto, já passou. Agora, é a hora da verdade.

*Milton Flávio é deputado estadual pelo PSDB, presidente da Comissão de Assuntos Internacionais da Assembléia Legislativa de São Paulo e da União dos Parlamentares do Mercosul (UPM)

alesp