PREVALECEU O BOM SENSO - OPINIÃO

Milton Flávio*
25/09/2001 14:12

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Durante cerca de um mês, médicos-residentes de todo o país permaneceram em greve. Reivindicavam melhorias salariais e redução da jornada de trabalho, entre outros quesitos. O movimento grevista foi encerrado no dia 21 de setembro após a assinatura de um acordo entre a Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) e o governo federal, representado pela secretária de Educação Superior do Ministério da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, e pelo secretário de Políticas de Saúde do Ministério da Saúde, Cláudio Duarte.

Os cerca de dezessete mil médicos-residentes receberão um abono salarial de R$ 100, retroativo a 1.º de setembro, e reajuste de 35% na bolsa, a partir do início do próximo ano, visto que o orçamento de 2001 está em execução e não há verbas disponíveis para tanto. Será formada uma subcomissão, com membros indicados pela CNRN, para discutir a regulamentação do auxílio moradia, política de formação de recursos humanos e os demais itens da pauta de reivindicações.

Por solicitação do comando de greve dos médicos-residentes de São Paulo, participei das negociações com o governador Geraldo Alckmin e o secretário da Saúde, José da Silva Guedes. Antes mesmo do acordo ter sido fechado em Brasília, já havia o compromisso, por parte do governo estadual, de conceder um abono de R$ 100 para cada residente e elevar os seus salários a partir de janeiro do próximo ano.

Gostaria de ressaltar a prontidão com que o governador paulista, que também é médico, atendeu ao nosso pedido de audiência para que o problema fosse discutido e se encontrasse uma saída. Igual comportamento foi adotado pelo secretário José da Silva Guedes; e a maturidade com que os representantes dos médicos-residentes participaram das discussões. Diante dos números, entenderam a impossibilidade de o governo do Estado lhes conceder, nesse momento, um aumento maior.

Esses registros me parecem importantes. Quanto mais nos aproximarmos das eleições gerais de 2002, tendem a crescer as demandas por aumentos salariais e as críticas, muitas vezes ligeiras e infundadas, de setores de oposição, useiros e vezeiros em prometer aos incautos o paraíso na terra. Não se ignora que parte do funcionalismo público, em todos os níveis, está com os salários defasados e que precisam recuperar seu poder de compra. O dinheiro, infelizmente, é insuficiente para fazer frente, de imediato, a todas as demandas. Quando se fala em recursos orçamentários nenhuma negociação pode ser levada a sério, se forem ignorados os fundamentos da matemática.

De qualquer forma, agradeço o voto de confiança que me foi dado pelos médicos-residentes. Tenho certeza de que, com seriedade e bom senso, obteremos novos avanços. Até porque, nesse caso, as partes envolvidas só têm um compromisso - o de oferecer à população um sistema de saúde público de qualidade.

Milton Flávio é deputado estadual pelo PSDB, presidente da Comissão de Assuntos Internacionais da Assembléia Legislativa de São Paulo e professor da Faculdade de Medicina da Unesp, em Botucatu.

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