UM SECRETÁRIO QUE CRIA "PMs KAMIKAZES" - OPINIÃO

Afanasio Jazadji*
01/02/2001 16:52

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O secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo, Marco Vinício Petrelluzi, tem-se esforçado para aparecer na mídia, dando entrevistas em jornais e revistas e com seguidas participações em programas de rádio e TV. O estilo é sempre o mesmo: tentar demonstrar que o grave problema da criminalidade em nosso Estado está sob controle.

O mês de janeiro foi marcado por uma forte polêmica entre Petrelluzi e líderes da Polícia Militar, por causa da insistência do secretário em manter o sistema de ronda solitária na Capital e em várias cidades grandes do Estado. Essa verdadeira loucura custou pelo menos uma vida, a do soldado PM Carlos Lorenzeto Garcia, assassinado por bandidos quando fazia a ronda numa viatura, na Favela Paraisópolis, no bairro do Morumbi.

A fórmula de Petrelluzzi consiste em colocar policiais sozinhos, cada um dirigindo a sua própria viatura, para tentar proteger cidadãos em determinadas regiões e atender aos eventuais pedidos de socorro. Esse sistema chega a contrariar até o Código de Trânsito, uma vez que, de acordo com a legislação para todos os motoristas, o policial teria apenas de dirigir, sem usar as mãos e o raciocínio para atender chamadas pelo rádio e fazer anotações, além de enfrentar a violência dos bandidos.

Com dois policiais numa viatura, já existem problemas: são necessários três, para maior eficácia desse trabalho e para assegurar a segurança dos policiais. Com um policial apenas, temos um "PM kamikaze", semelhante a pilotos japoneses da 2.ª Guerra Mundial: um verdadeiro suicídio. São sacrificadas vidas, em nome da obsessão do secretário Petrelluzzi de tentar demonstrar uma evolução do combate ao crime.

E o combate ao crime realmente evoluiu? Se tomarmos por base as informações do próprio secretário, houve evolução. Ele argumenta que, quando assumiu o cargo, há dois anos, o Estado de São Paulo tinha 70 mil presos e agora tem 93 mil. Petrelluzi também diz que houve pesados investimentos na modernização da polícia.

Com relação a esses dois argumentos, percebe-se uma fragilidade muito grande. Não adianta afirmar que hoje em dia o número de presos cresceu em 23 mil. Sabemos que os presídios estão lotados, mas existem mais alguns milhares de bandidos em liberdade, matando e atemorizando as pessoas. Quanto ao reforço recebido pela polícia, isso corresponde apenas a um investimento financeiro para a compra de novas viaturas. O marketing do secretário Petrelluzzi está sendo feito por meio de poluição sonora: os policiais têm ordem de acionar a sirene a cada momento, na tentativa de mostrar que a polícia existe. Que existe, existe. Porém, de modo ainda improvisado, incorrendo em erros, como essa idéia da ronda solitária, que acabou sendo condenada por PMs e por especialistas em polícia. O secretário, por ser advindo do Ministério Público, como promotor de Justiça, é um homem que conhece leis, mas sem base para a prática do combate ao crime.

Outro detalhe que salta aos olhos: se hoje o governo do Estado gasta dinheiro para ter novas viaturas, significa que a fracassada proposta de criação da Teletaxa, um ano atrás, era um blefe. A Teletaxa, que, segundo o secretário Petreluzzi, seria usada para o reaparelhamento das polícias, acabou não sendo criada e, ainda assim, o governo investiu em segurança: foi preciso o PSDB perder as eleições na Capital e ir atrás do prejuízo.

Afanasio Jazadji é radialista e deputado estadual pelo PFL

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