PARA RUSSO OUVIR - OPINIÃO

Arnaldo Jardim*
17/01/2002 12:45

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Os conformistas acabam sempre por justificar sua estagnação comparando-se com outros em situação pior. Parece ser essa a atual posição da aliança que sustenta o governo FHC. Seus representantes utilizam-se da Argentina, por exemplo, para afirmar que nosso modelo de desenvolvimento está dando certo. Esse otimismo mascara a impotência de enfrentar nossos graves problemas e entra em choque com os indicadores econômicos.

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo anunciou que o nível do emprego industrial no Estado caiu 2,02% em 2001, o que corresponde a 2 mil vagas perdidas e representa o pior índice desde 1994, ano da criação do Plano Real.

Levantamento feito pelo IBGE nas regiões metropolitanas de São Paulo, Porto Alegre, Recife, Salvador, Belo Horizonte e Rio de Janeiro indica que a taxa média de desemprego saltou de 4,8% no ano de 1992 para 6,3% no período de janeiro a novembro de 2001. Esse mesmo estudo mostra que o mercado de trabalho ficou menor e teve sua qualidade deteriorada. Existem mais desempregados, mais gente excluída do mercado de trabalho e é maior o tempo de procura por emprego. Ainda segundo o IBGE, a participação da indústria como empregadora caiu 27,8% no ano de 2001 em comparação com 1991.

O próprio governo não tem se mostrado otimista em relação às contas externas e existe uma unanimidade em relação a nossa dependência de dinheiro externo, o que tem dificultado o crescimento econômico, na medida em que não geramos divisas para impulsionar um desenvolvimento sustentado.

Enquanto isso, ficamos vivendo de ajuste fiscal e aperto monetário, fazendo de conta que os problemas estruturais estão sendo resolvidos. O exemplo típico é a crise de energia: sua superação é apregoada pelo governo, mas, de fato, ela foi apenas administrada, sem que se resolvesse o problema básico da falta de investimento em geração. Bastará que o país cresça um pouquinho para que o pesadelo dos apagões volte com toda força.

Para se desenvolver, de fato, o Brasil precisa fortalecer o sistema produtivo interno, distribuir a renda, aquecer o mercado doméstico e conquistar novos mercados no exterior. Para tanto, não basta brincar de flutuar câmbio e aumentar a carga tributária. É preciso coragem para enfrentar o Grupo dos 8 e o FMI, mostrando a necessidade de uma nova fase do processo de globalização, que dê oportunidades efetivas aos países em desenvolvimento. Uma coragem que o presidente Fernando Henrique revela em discursos como o proferido em sua recente viagem à Rússia, mas que não aparece na sua real política.

*Arnaldo Jardim é engenheiro civil, ex-secretário estadul da Habitação, deputado e presidente estadual do PPS

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