Ruíram por terra, em definitivo, todos os discursos que o PT tem feito desde o início do ano em relação à Reforma Tributária, demonstrando a pouca seriedade com a qual a sociedade civil é tratada pelo governo federal. É difícil imaginar a cara com a qual tantos petistas que gastaram saliva para fazer discursos defendendo a proposta do governo enfrentarão seus eleitores.Enquanto o PT jurava não haver aumento da carga tributária gestava-se a Medida Provisória que modificou a sistemática de cobrança da Cofins. Enquanto falava-se de um amplo diálogo com a sociedade, publicava-se na madrugada de sexta-feira uma medida provisória avançando sobre os bolsos das empresas. Enquanto se fala de "espetáculo do crescimento" tomam-se decisões sacrificando ainda mais a economia e gerar inflação. Punem-se os empresários brasileiros com um aumento da Cofins de 153% para alguns setores - em especial os prestadores de serviço já sacrificados nas "minireformas" anteriores - mas se premia com "imposto zero" os produtos angolanos, devido a motivações políticas cuja real importância foge à nação.Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), o custo médio da Confins para as empresas tributadas pelo lucro real subirá em 33,67%. Dos 93 setores da economia pesquisados, ainda segundo o IBPT, 72% pagarão mais impostos. O peso do tributo no preço final dos produtos aumentará 33%.A grande vítima será o setor de serviços, justamente aquele cujo dinamismo e necessidades específicas de mão-de-obra permitem melhor potencial para gerar com rapidez os empregos necessários à retomada do desenvolvimento tão prometida. Com isto praticamente se elimina as chances de qualquer ação efetiva de geração de empregos. Além disso, transparece a intenção clara de frear o processo de modernização - o qual implica na terceirização de atividades-meio - da economia.O governo petista cercou o setor de serviços ampliando em mais de 150% a alíquota da CSLL - Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - das empresas que contribuem pelo lucro presumido. Na ocasião o governo disse que isto não representava um aumento da carga tributária porque as empresas poderiam optar por declarar pelo lucro real. Quem seguiu a orientação do governo foi pego agora neste cerco, demonstrando a falta de compromisso com a própria palavra.Lula não consegue descer do palanque. Tendo chegado à Presidência da República parece mais empenhado em se tornar Secretário-Geral da Onu, tanto tem sido generoso com outros países às custas da economia nacional - através de empréstimos subsidiados, parcerias nas quais o ganho do Brasil é obscuro e agora com a isenção de impostos para países africanos. A primeira condição para um diálogo com os agentes econômicos é que se tenha alguma base na realidade e se respeitem os compromissos assumidos. O que se vê é muito diferente, mesmo quando os números demonstram que o governo federal não faz o que fala, o PT os ignora e faz malabarismos matemáticos para provar que dois mais dois são cinco.A negação do aumento da carga tributária que tem sido feita de forma tão insistente como equivocada pelos petistas demonstram que eles agora pretendem fazer com os números o que tem feito com o discurso: moldá-los na forja do marketing para encaixá-los em suas necessidades políticas. O problema desta estratégia, contudo, é que os agentes econômicos sabem muito bem o quanto de fato tem saído dos seus bolsos para os cofres do governo. *Vaz de Lima é líder da bancada do PSDB na Assembléia Legislativa e presidente da Comissão Parlamentar de Acompanhamento da Reforma Tributária do legislativo paulista.