Na mesma época em que analistas apressados atribuem ao Estatuto do Desarmamento uma não-comprovada queda da violência e da criminalidade no Estado de São Paulo, a Justiça manda libertar uma jovem da classe média alta que, unida ao seu namorado e ao irmão dele, participou do assassinato dos pais.A morte do casal Manfred e Marísia von Richthofen ocorreu em 30/10/2002, no Brooklin, na cidade de São Paulo, e foi amplamente noticiada pela imprensa. A história era chocante: Suzane, de 19 anos, filha do casal, auxiliada pelos irmãos Daniel, seu namorado, e Cristian Cravinhos, levou adiante o plano de assassinar os pais, que dormiam na casa da família. Diante das evidências e das confissões todos os três foram logo presos para aguardar o julgamento.Agora, em 28/6, quando o caso estava quase caindo no esquecimento, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) concedeu habeas-corpus para que Suzane fosse libertada enquanto não é julgada pelo crime. Ela saiu da cadeia e os jornais publicaram que, dentro de seu inocente ursinho de brinquedo, havia uma pistola e 200 balas.É claro que tem gente que se revolta com o fato de os dois outros jovens participantes do assassinato também poderem sair: os assassinos pobres não têm o mesmo tratamento dos assassinos ricos? Em parte, também na Justiça, dinheiro ajuda. A questão, porém, é complexa e exige reflexão.Coincidência ou não, duas outras notícias ligadas à criminalidade ganharam destaque na mídia na mesma época em que Suzane era libertada: uma estranha pesquisa do governo do estado aponta redução de 35,25% do total anual de homicídios na cidade de São Paulo, entre 2000 e 2004, e a insistência de alguns deputados federais de, apesar da crise política em Brasília, tentar apressar na Câmara a votação da confirmação, para outubro, do referendo sobre a proibição de armas no País.As duas notícias são ligadas a distorções. É mesmo possível acreditar na propaganda oficial de que caiu o número de assassinatos em nosso Estado? E mais: até que ponto uma eventual queda teria a ver com a demagógico Estatuto do Desarmanento, que convenceu milhares de cidadãos pacíficos a entregar suas armas às autoridades nos últimos meses? Começa que, na mesma época foi divulgada uma terceira informação: a de que houve novas chacinas na periferia da região metropolitana de São Paulo.E mais: vale alertar os analistas apressados que o assassinato do casal Von Richthofen ocorreu a golpes de bastões de ferros e não a tiros de revólver. Isto significa que armas do tipo das usadas naquele crime podem ser compradas em lojas de material de construção ou mesmo furtadas de um canteiro de obras.Quanto à libertação de Suzane, convém ressaltar que o habeas-corpus foi concedido por três votos a dois, na 6.ª Turma do STJ, sob a alegação de que a moça não constitui perigo para a sociedade... Uma triste lição para o Brasil de hoje! *Afanasio Jazadji é radialista, advogado e deputado estadual pelo PFL.